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Estado de Minas Opinião sem medo

STF quer revogar de vez a prisão no país

Ministros agora dizem não ser possível alterar malfadado artigo que libertou para sempre nossos maiores ladrões


15/11/2019 13:20 - atualizado 15/11/2019 17:58

(foto: Wikimedia Commons)
(foto: Wikimedia Commons)

O Ministro Marco Aurélio Mello, do STF, adora usar uma expressão - de forma irônica, claro -, sobre assuntos, digamos extravagantes, do dia a dia nacional: “tempos estranhos em que vivemos”.

Como negar? Ou não é estranho que um condenado a mais de 70 anos de prisão, em duas instâncias e dois processos diferentes, tenha sido posto em liberdade até o fim dos seus dias?

Ainda mais estranho é o caso de um réu confesso, que matou a namorada, se entregou, foi processado, condenado em primeira e segunda instâncias, e agora solto “presumidamente inocente”, até que um dia qualquer, lá pelos idos de 2614, o STF decida o contrário. Catzo! Até o direito de nos declarar culpados o STF cassou.

Mas estranho, estranho mesmo, estranho de verdade foi o faniquito que o próprio Marcão (agora ele surta de vez, hehe) deu com uma advogada, no plenário da corte, porque ela atreveu-se, imaginem!, a dirigir-se aos ministros como “vocês”. Tadinha da moça. Levou um pito daqueles.

Para os supremos togados, advogado frequentar o STF trajando bermuda é ok. Ministro ofender ministro, ao vivo e em cores, é ok. Ministro chamar membros do Ministério Público e juízes de cretinos, canalhas, quadrilha etc é ok. Mas um desavisado pronome pessoal de tratamento é quebra de liturgia na certa.

Gostaria de ter - ah, as antigas expressões da inculta e bela - com o ministro mais uma vez. Explico: meses atrás, me encontrei com Marco Aurélio num aeroporto e conversamos animadamente por quase uma hora, na fila da imigração. A esposa dele é desembargadora criminal no Rio de Janeiro. Um encanto de senhora. “Linha duríssima! Ela prende, eu mando soltarrrrr”, disse o ministro sorrindo, com aquele sotaque peculiar. “Sou um guardião das leis. Se elas não são boas, que o Congresso as mude”.

Pois é. Se um dia eu reencontrar Marco Aurélio %u2015 na ocasião, quando lhe chamei de senhor, ele me repreendeu: “aqui fora não precisa me chamar de senhor” %u2015  lhe darei um caloroso aperto de mãos, e de feitio mui prazenteiro boquejarei (eita, que hoje eu tô litúrgico):

%u2015 Marquito, quando do nosso derradeiro colóquio, você me disse que se as leis não fossem boas, que o Congresso as mudasse. Agora que os nobres deputados finalmente estão dispostos a tentar deixar clara a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância, me vem você e seu (como é mesmo que se referiu a ele? Ah, lembrei!) desafeto que não pode tomar um simples cafezinho nas ruas de Lisboa sem ser ofendido, e dizem que não pode?

Será que, definitivamente, após legislar sobre união civil homoafetiva, aborto e homofobia, dentre outros, o STF assumiu de uma vez seu tão sonhado papel de legislador sem voto ou mandato popular?

Tempos estranhos, ministro. Muito estranhos... Estranhíssimos!!

Um beijo na Dona Sandra.

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