O Atlético Mineiro passa por mais uma grave crise, e desta vez não apenas dentro dos gramados, o que não chega a ser nenhuma novidade. Mas as declarações públicas dos envolvidos - neste caso, o ex-presidente do Clube, Ricardo Guimarães, e o médico Felipe Kalil, filho de Alexandre Kalil - ultrapassam as fronteiras da política e da medicina, e resvalam no sempre perigoso e movediço terreno criminal.
Felipe acusa Guimarães de ter pedido sua cabeça ao atual presidente Sérgio Sette Câmara. O motivo seria uma espécie de retaliação por desavenças com seu pai, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil. Em nota, o banqueiro, investidor e patrocinador do Galo desmentiu qualquer participação no episódio. E mais: sugeriu, ainda que de forma velada, que Felipe ocupava um cargo não necessário e que recebia salários acima de média.
“Apurei que uma empresa de consultoria está para ser contratada pelo Atlético e fará uma análise de cargos e salários no clube. Caso o médico Felipe Kalil tenha antecipado sua saída em razão da contratação de referida empresa, tal decisão é de caráter pessoal e não deve ser atribuída a terceiro, como se insinua”, disse em nota, Ricardo, que continuou: “No caso específico, ao invés de querer saber se alguém pediu a saída dele, a pergunta que deve ser feita é como ficará a vaga que se encontra em aberto, ela será preenchida? Caso seja, qual será o custo deste profissional?”
Bem ao estilo do pai, o médico, por sua vez, respondeu: “A respeito do parágrafo rasteiro sobre auditoria no Atlético, esclareço que recebia com carteira assinada, exercendo minha profissão de médico: o que faço há 10 anos. De mais a mais, auditorias só amedrontam bandidos de colarinho branco, que vivem envolvidos em encrencas criminais”.
Ricardo Guimarães e o Banco BMG tiveram seus nomes ostensivamente envolvidos no episódio conhecido como Mensalão, rumoroso caso de corrupção e compra de apoio parlamentar, por parte do PT e outros partidos aliados, em conluio com empresários do setor de propaganda e publicidade, como Marcos Valério, que resultou, inclusive, na condenação e prisão do ex-governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo (PSDB), recentemente solto, como o ex-presidente Lula, por conta da decisão do STF que limitou a possibilidade de prisão antes do chamado “trânsito em julgado”.
Não se sabe se a declaração de Felipe Kalil faz menção ao episódio do Mensalão, onde Guimarães chegou a ser condenado, em primeira instância, a sete anos de prisão, em 2012, ou se conhece algo mais que ainda não veio à tona. Mas fica patente, nesse tiroteio todo, que o futebol brasileiro não é mesmo um lugar habitado por “gente comum”. O Cruzeiro Esporte Clube que o diga.