Todos conhecem a história do sapo e do escorpião: o artrópode pede ao anfíbio que o carregue sobre as costas, para juntos atravessarem o rio. Mas, desconfiado, o cururu diz temer pela vida. Em resposta, o peçonhento lhe tranquiliza: “não seja tolo. Por que iria te picar? Morreríamos afogados”.
Após pouco refletir, o sapo encontra razão no argumento e dá carona ao novo amigo. Contudo, no meio da travessia, sente a ferroada fatal lhe espetar o lombo. “Mas por que raios você fez isso? Agora irá morrer comigo”. Ao que respondeu o escorpião: “Não sei. É da minha natureza.”
Não se passa um dia sem que Jair Bolsonaro não invista seu ódio (pela vida) contra alguém. É impressionante, mas a fila de ex-aliados, agora transformados em inimigos mortais, começa a rivalizar com os já tradicionais: esquerdistas, petistas, comunistas, homossexuais, indígenas, quilombolas, jornalistas...
Bolsonaro alimenta-se de ódio e de conflito, e os tempera com inveja, insegurança, ciúmes e pitadas adicionais de crueldade. Suas últimas vítimas foram dois dos melhores quadros do governo: Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro, respectivamente ex-ministros da Saúde e da Justiça. O que fizeram para merecer a picada do escorpião? Absolutamente nada! Mas é da natureza do ex-chefe a vocação pela morte.
Até o momento, passam de cinco mil as famílias que choram seus entes pela COVID-19. E são números subdimensionados, infelizmente. A realidade é muito mais dura. Pois bem. Diante da tragédia, como reage nosso peçonhento líder? Com um cruel e infame “e daí”? Eis a natureza de Jair Bolsonaro em estado puro. Em estado bruto.
O escorpião não conhece a vida sem o medo. Por isso, sempre ataca quem se aproxima. O presidente não conhece a vida sem o medo. Por isso...
O que Jair Bolsonaro não percebe é que, a cada vez que inocula seu veneno em alguém, diminui seu círculo íntimo e se isola. Em breve, já não contará com mais ninguém ao seu lado e, finalmente, se afogará na própria peçonha.
Ao que tudo indica, é esse seu desejo. Como o escorpião, Bolsonaro move-se pela pulsão de morte.