Jornal Estado de Minas

RICARDO KERTZMAN

Opinião sem medo: Nossa via crucis, da mandioca à cloroquina


Reza a sabedoria popular: “no fundo do poço há um alçapão”. Isso significa que tudo sempre pode piorar. Pois é. 

Quando Dilma Rousseff, em uma solenidade pública, conclamou os presentes a “saudar a mandioca”, pensei: nada pode superar isso. Afinal de contas, que outro país elegeria uma presidente com coragem para render homenagens a um tubérculo?

Jair Bolsonaro vem demonstrando ser um rival à altura, talvez melhor, no mau sentido, que a estoquista de vento (sim; Dilma pensou em estocar vento). Sua oratória é tão descabida, tosca e confusa quanto. Sua incapacidade de iniciar e terminar uma frase, idem. E melhor sorte não lhe assiste em cultura e inteligência.





Recolhido no Alvorada, recuperando-se de uma misteriosa e curiosa Covid-19, o presidente cansou de ser bicado por emas ou transmitir “lives” por redes sociais. Decidiu correr para a galera, desta vez, finalmente, usando máscara, e para lá partiu o nosso Capitão Corona. Triunfante, feliz, ergueu, “a la” Carlos Alberto Torres, como se fosse a taça do mundo de 70, sua milagrosa caixinha de cloroquina.

Em êxtase, a plateia saudou a droga e seu vendedor-propagandista disfarçado de presidente da República. Em que pese toda a não-recomendação da comunidade científica mundial, a simbiose religiosa entre pastor e rebanho falou mais alto. 

O Brasil trocou de pêlo, mas não perdeu o vício.