A saída de Salim Mattar, o prestigiado empresário mineiro que assumiu a secretaria de privatizações do governo Bolsonaro, escancarou a perversidade de um sistema que, há décadas, suga o dinheiro (leia-se sangue, suor e cerveja) do brasileiro que produz e praticamente nada lhe devolve de bom. Ao contrário.
O Estado brazuca é uma arapuca montada para transferir renda, do setor privado, para uma restrita casta de políticos e governantes, que, em conluio com sindicatos e um ou outro agente empresarial apaniguado (ou um ou outro setor escolhido a dedo), cria, defende e perpetua leis, regras e regulamentos que impedem a derrubada do “muro da vergonha”, que separa de forma brutal os mais ricos dos mais pobres neste país.
Mattar resumiu o que encontrou: quase 700 estatais, 190 bilhões de reais de prejuízos acumulados em dez anos e uma tropa de choque nos três Poderes, de prontidão para dificultar ou impedir o avanço de qualquer tentativa de privatização. Uma barreira intransponível que, governo após governo, vence seus inimigos, afinal, paciência e resiliência, para quem precisa trabalhar de verdade para viver, são finitas.
Jair Bolsonaro jamais foi um político liberal e desestatizante. Basta ver como votou durante quase três décadas de mandato. Ainda assim, se elegeu com esse discurso, que faz questão de manter. Porém, entre o que fala e como atua há um abismo de distância, o que só demonstra que Mattar está correto, e o porquê do 'Posto Ipiranga' estar com os nervos à flor da pele. Outra vez!
Sem uma profunda reforma de Estado que o transforme de fato em um ente servidor, e não servido pela sociedade, o Brasil jamais deixará de ser uma “promessa de futuro” e uma das mais desiguais nações do planeta. Chova ou faça sol, governe a esquerda ou a direita, com ou sem grandes empresários abnegados, como Salim Mattar, dando sua contribuição. Simples assim. Triste assim.