Perguntem a si mesmos, ou a outrem, duas qualidades do prefeito Alexandre Kalil ou duas realizações do seu mandato. Façam o mesmo teste, trocando o prefeito de BH por Jair Bolsonaro. Aposto, sem medo de errar, que a maioria absoluta apontará, como qualidades, a personalidade e a honestidade de ambos. Realizações? Esqueçam. Ninguém saberá dizer. Até porque, não há.
Kalil faz uma administração pífia, para não dizer desastrosa. A cidade está um caco, abandonada, entupida de moradores de rua. A prefeitura, como sempre, loteada e aparelhada politicamente, de cabo a rabo. O Vilarinho continua afogando e a caixa preta da BHTrans, fechadinha, fechadinha. Se Kalil cumpriu alguma promessa de campanha, é modesto e não divulgou. Guardou só para ele.
Jair Bolsonaro é um completo desastre! Prometeu reformas, e só apresentou uma, a da Previdência. Prometeu diminuir o Estado e cortar privilégios, e não fez nem um nem outro. Prometeu cortar impostos, mas pretende aumentá-los. Prometeu combater a corrupção, mas se livrou de Sergio Moro tão logo seu pimpolho se enrolou com rachadinhas. Prometeu jamais fazer “toma lá dá cá”, mas está sentado, mansinho, mansinho, no colo do Centrão.
Em seu governo, o dólar atingiu a maior cotação nominal da história. O arroz, também. E a gasolina. O desemprego é recorde e superou os índices de Dilma Rousseff. Quase 5 milhões de brasileiros sofreram e sofrem com a COVID-19. Quase 150 mil já morreram. Somos o pior país do mundo dentre as vinte maiores economias globais. E tudo o que o presidente conseguiu fazer foi oferecer cloroquina às emas do Palácio.
Mas Bolsonaro é “sincerão”, eufemismo popular para grosseiro, tosco. Kalil, também. Ambos falam “na lata”. Cabras machos! E tomam cafezinho no boteco. Comem pastel na feira. São “gente como a gente”. Também são honestos. Problemáticos são apenas os filhos, parentes e amigos. São, digamos, como Lula. As almas mais honestas do País. Apenas dão azar por estarem rodeados de pilantras.
Kalil é favoritíssimo à reeleição. Possivelmente levará no primeiro turno. Por quê? Bem, porque não roubou e porque é valentão. Bolsonaro conta com 40% de aprovação popular. Também é favorito à reeleição. Salvo um Queiroz ainda maior ou o agravamento dramático da situação econômica, também levará no primeiro turno. Por quê? A mesma coisa: é honesto e valentão. Ambos não são admirados pelo que fazem, mas pelo que dizem.
O populismo é uma praga mundial. Vejam o exemplo, inclusive, dos Estados Unidos, simplesmente a maior potência econômica e militar do planeta. Está entregue a um bufão grosseiro, mentiroso, preconceituoso e xenófobo. Por quê? Porque xinga a imprensa, xinga os chineses, expulsa os latinos, apoia supremacistas brancos e é politicamente incorreto, leia-se, “autêntico” para as massas.
Políticos como Trump, Bolsonaro e Kalil descobriram que grande parte dos seus eleitores é como eles. Comunga das mesmas ideias e atitudes. Inclusive, perdoa até possíveis crimes, desde que sejam, como direi?, pequenininhos. Tipo: roubar pouco pode. Sonegar impostos pode. Cheques na conta da esposa pode. Não pagar IPTU e INSS pode. Fazer rolo com doação de campanha… pode!
Talvez essa grande parte dos eleitores transfira uma certa culpa que sente, e por isso releva as atitudes desses sujeitos. Exemplo: se sonego impostos, eles podem fazer caixa 2 de campanha. Se estaciono em local proibido, eles podem contratar parentes. Se furo a fila, eles podem roubar um tiquinho. E por aí vai. Creio haver uma espécie de identificação, como disse, mas também uma certa autopunição. Freud explica isso muito bem.
Tudo o mais constante, 2020 e 2022 ratificarão a hora e a vez dos brutos. Dos ignorantes. Dos trombadinhas. Tudo em nome da sinceridade e da “honestidade”. Em nome da aceitação, nos outros, do que somos e fazemos. A máxima “todo povo tem o governo que merece” encontrou, no Brasil, sua maior expressão da realidade. Kalil é apenas o Bolsonaro de Belzonte. Que é apenas o Trump tupiniquim. E assim por diante.