Quem me acompanha, conhece o asco que tenho por Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, e toda a gente vil que usualmente lhe cerca. Costumo dizer que apenas o corrupto e lavador de dinheiro, Lula da Silva, me eriça de igual sorte os pelos da indignação. Tenho uma terrível mania de odiar políticos e governantes cretinos, entendem? Esquisito esse Ricardo, né?
Por outro lado, tenho profunda consideração pelo governador de Minas, Romeu Zema. O que não significa devoção nem muito menos idolatria. Como sempre digo, político tem de apanhar (no sentido figurado, é claro!) de manhã, de tarde e de noite. Afinal, são servidores públicos e têm de entregar resultados compatíveis com o dinheiro e os benefícios que recebem.
Brasília viveu nesta terça-feira (02) um dos episódios mais infames da sua história. E como se sabe, infâmia é o que não falta na capital federal. Detestar Bolsonaro, admirar Zema e não “ir com a cara” do mundo político não desmerecem a minha crítica a seguir, muito menos tornam minhas palavras menos verdadeiras ou menos legítimas. Apenas mais enfáticas.
Estamos no pior momento da pandemia no Brasil, desde que esse maldito novo coronavírus por aqui desembarcou, cerca de um ano atrás. Contabilizamos, há mais de 45 dias seguidos, mais de 1.2 mil mortes diárias. Somente nessa quarta-feira (03/03), 1.7 mil famílias choraram os entes queridos, vitimados pela COVID-19. Afora os milhares de doentes e sequelados.
Os dados sócio-econômicos não nos trazem qualquer alento. O PIB (Produto Interno Bruto) caiu 4% em 2020. O dólar disparou, trazendo ainda mais aumentos de preços, inclusive dos combustíveis e alimentos. O risco Brasil explodiu, afastando os investimentos e gerando mais desemprego. Com tudo isso, o País deixou o grupo das 10 maiores economias do mundo.
Mas nada disto impediu que um vibrante grupo de políticos e governantes de alta patente se aglomerasse em torno de uma farta mesa de comida mineira, onde o prato principal servido foi um belo e gordo leitão à pururuca, regado a fartas altas gargalhadas. Quando apelidaram Brasília (minha querida cidade natal) de “ilha da fantasia”, não estavam exagerando, não.
Afinal, em que outra cidade poderia ocorrer tamanho descaso com a dor de todo um país? Em que outra cidade um senador da República, filho do presidente, investigado por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, um dia após ter sido beneficiado por decisão judicial, compraria uma mansão de 6 milhões de reais, em pleno auge da pandemia?
O deputado federal Fábio Ramalho (MDB-MG) resolveu prestigiar a presença do governador Romeu Zema, em Brasília, e foi o anfitrião do convescote e o mestre-cuca responsável pelo torresmo gigante. Além do governador mineiro, estiveram presentes Jair Bolsonaro e vários ministros, além dos filhos Eduardo e Flávio, respectivamente, o bananinha e o rachadinha.
Conforme definiu o próprio parlamentar anfitrião, “foi um almoço alegre e bem descontraído”. Diante de tantas más notícias para o Brasil real e os brasileiros normais, ao ser perguntado a razão de tantas gargalhadas, o deputado respondeu: “quando você está almoçando, você não está com cara fechada”. Depende, Fábio. Depende se há comida na mesa e saúde em casa.
Não me surpreende a presença e a descontração do devoto da cloroquina, Jair Bolsonaro, no banquete. Afinal, um psicopata clássico; um legítimo verdugo. A todo instante me lembro das palavras ditas pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, ao seu colega de Casa, Gilmar Mendes, após mais uma altercação entre ambos:
"Me deixa de fora desse seu mau sentimento. Você é uma pessoa horrível. É uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia. Não consegue articular um argumento. A vida para V. Exa. é ofender as pessoas. Não tem nenhuma ideia, nenhuma. Só ofende as pessoas. Qual é sua ideia? Qual é sua proposta? Nenhuma! É bílis, ódio, mau sentimento, uma coisa horrível.”
E continuou: “V. Exa. nos envergonha. É uma desonra para todos nós. É um temperamento agressivo, grosseiro, rude. É péssimo tudo isso. É muito penoso para todos nós termos que conviver com V. Exa. aqui. Não tem ideia, não tem patriotismo, está sempre atrás de algum interesse. Uma vergonha, um constrangimento." Eis aí. Nada mais Bolsonaro do que isso.
Se Barroso se referisse ao pai do senador das rachadinhas dessa maneira, eu assinaria com o maior gosto. Bolsonaro é tudo isso e ainda mais: é perigoso, é malandro, é irresponsável, é homicida, é vil. Repito: sua presença no “almoço da desonra” é normal. O que me espanta é a presença do governador Romeu Zema. Isso, sim, algo anormal, triste e a se lamentar.
E que não me venham com a história de que política exige certos “constrangimentos”, pois não é o caso. Zema poderia muito bem ter alegado falta de agenda e pulado fora da canoa furada. Ficou porque quis. Comeu porque quis. Bebeu porque quis. Gargalhou por que quis. Simplesmente não pensou, em hora alguma, nos desfortúnios dos cidadãos mineiros.
Espero sinceramente que essa quarta-feira tenha sido pra lá de indigesta para os convivas da vergonha. Espero que tenham passado o dia entre engulhos, vômito e cólicas homéricas pela torresmada cretina. Espero que todos tenham assado os fiofós em 200 idas ao vaso. É o mínimo que merecem por tanto descaso e falta de empatia com o povo; mineiro e brasileiro.