Jornal Estado de Minas

OPINIÃO SEM MEDO

Por que supermercados e farmácias devem abrir e igrejas, não



A ignorância - no sentido de falta de conhecimento adequado sobre algo - associada à má fé é uma das coisas mais asquerosas que um ser humano pode unir para ser usada em seu benefício, seja lá qual for.





A pandemia do novo coronavírus, desde o começo, foi e é um prato cheio para esse tipo de cretinice. Começou com a atribuição proposital à China pela criação e disseminação do vírus para poder “comprar o mundo barato”.

Depois vieram os tratamentos precoces milagrosos, que não só nunca trataram ninguém, como - e hoje começa a ficar cada vez mais claro - ajudaram a matar, quando não raro a adoecer, as pessoas por efeitos adversos.

Em seguida, as falácias negacionistas do tipo: “dengue mata mais; hoje só se morre por COVID-19; cadê o CPF?; os hospitais já eram lotados antes; é só uma gripezinha, um resfriadinho; vão morrer só 800 pessoas”.





Hoje, sobretudo o governo federal e seus aliados do obscurantismo, liderados pelo verdugo do Planalto, Jair Bolsonaro, investem como nunca em contrapontos mais falsos que nota de 3 reais, a fim de imporem sua agenda homicida.

Sempre que se fala em proibir aglomerações, os áulicos da morte invocam falsas premissas que, de forma açodada, poderiam ser válidas, mas não são. Tal conduta é milenar e os gregos já a conheciam cinco séculos antes de Cristo.

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Por que supermercados e farmácias podem abrir, já que por eles transitam centenas de milhares de pessoas por dia? Por que os coletivos e metrôs podem circular apinhados de gente? Por que só as igrejas têm de ficar fechadas?

Bem, em primeiro lugar, não são apenas as igrejas que estão fechadas. Bares, restaurantes, escolas, comércios não essenciais, shoppings, clubes de lazer, praças esportivas etc também encontram-se “fora de serviço” ao público presencial.





Em segundo lugar, a razão é simples. Não dá para comprar alimentos e remédios senão nas farmácias e supermercados. E não dá para ir trabalhar nestes locais, ou a hospitais, por exemplo, sem usar o transporte público.

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Quem alega a superlotação dos ônibus e trens a fim de validar o “direito” de ir rezar em um templo ou é ignorante ou desonesto; ou ambos. Há fábricas, limpeza e segurança pública e serviços básicos funcionando. Os trabalhadores precisam ir e vir.

Por outro lado, ninguém precisa de uma igreja para professar sua religião. Ou de uma academia para se exercitar. Ou de um shopping para comprar alimentos, produtos de higiene e bebidas. Ou de um restaurante para comer.





É assustador assistir a um ministro do STF, como fez Kássio Nunes Marques, sofismar de forma desavergonhada neste sentido, como muito bem lembrou o jornalista Mario Sabino, em excelente artigo no site O Antagonista.

A população é alienada, desinteressada e ignorante o suficiente para validar este tipo de argumento e, de forma simplista e rápida, adotá-lo como verdade para justificar sua conduta irresponsável diante da doença.

O ser humano, por natureza, prefere o auto engano à consciência. Alcoólatras e drogados jamais admitem seus vícios. Os gordos juram que não comem tanto assim. Quando certas teses são “compradas”, já era.





Kássio Nunes, e não só ele, é uma vergonha para a humanidade, no conceito restrito, e não alargado, do substantivo. Ao sofismar de forma cretina, já que ignorante não é, condena, potencialmente, milhares à morte.

E não só nas igrejas e templos, não. Mas em quaisquer locais onde o “povão” possa aglomerar, simplesmente porque “os ônibus estão lotados” e “os supermercados estão abertos”. Três segundos de raciocínio lógico e honesto seriam suficientes para atirar a decisão do ministro bolsonarista na lata de lixo.

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