Nome, sobrenome, idade e parentesco já eram. O importante agora é a causa
Quando morriam pais de amigos meus, a primeira pergunta era: qual a idade? Hoje, é: foi COVID? Como se diante da morte e da dor da perda o motivo tenha alguma importância.
O mundo chega a 3 milhões de mortos por causa do novo coronavírus. O Brasil beira 400 mil vítimas fatais. Morrer se tornou mais estatística e menos tragédia. Foi COVID?
A morte não se importa com a causa; se câncer, infarto ou derrame. A maldita simplesmente cumpre seu papel. Mesmo quando natural, por velhice, ou súbita, por acidente.
Morrer por COVID parece pior. É como se a doença fosse mais importante que a fatalidade em si. Me pergunto se acaba não sendo uma forma de diversionismo diante da realidade.
Por algum tempo esquece-se de quem se foi e especula-se sobre como a pessoa adoeceu, qual foi o tratamento, o que poderia ter sido feito e o que poderia ter sido evitado.
A COVID vai passar. O diabetes, não. O AVC, não. O latrocínio, não. Voltaremos a lamentar o fato, e não o motivo. Morrer deveria ser proibido. Não é. Que se dane o coronavírus. Minha saudade só se importa com a ausência.