Jornal Estado de Minas

RICARDO KERTZMAN

Retire Deus, Israel e a história do meu povo dessa boca profana, Bolsonaro

Hoje é o segundo dos três dias de comemoração pelo ano novo judaico (5782). É uma data que representa - na visão do judaísmo - o início de tudo; o início dos tempos. É também uma oportunidade para se pedir, ou reforçar os pedidos, a Deus por saúde, paz e prosperidade, resumidos na tradição de se desejar ‘um ano doce e bom’. O Rosh Hashaná antecede o Yom Kipur, ou Dia do Perdão, a data mais importante do ano para os judeus em todo o mundo.




 
Leia também: Desenhando para Bolsonaro a diferença entre crime e liberdade de expressão   

Acompanhando com muito pouco - ou quase nenhum! - interesse essa porcaria toda de 7 de setembro, acabo de ler algumas notícias a respeito do 'Dictatorship Day’ tupiniquim. Estou vivendo nos Estados Unidos há 4 meses e participei ‘in loco’ das comemorações do ‘Independence Day’, em 4 de julho. É impossível, portanto, não correlacionar as datas e os eventos. Como é impossível não cair em uma profunda tristeza; em um poço de desesperança sem fim.

O Brasil não é o Brasil à toa, não. Como os Estados Unidos da América também não são o que são por mero acaso. Em 12 de abril de 1861, sob o comando de um dos maiores homens públicos da história - Abraham Lincoln (1809 - 1865) -, americanos e democratas, de todas as partes do mundo, entraram em um conflito sangrento que durou 4 anos, contra golpistas (também americanos), dando início à uma guerra civil que vitimou 600 mil vidas humanas.

A Guerra da Secessão foi motivada pela defesa intransigente da democracia e dos valores defendidos na Constituição Americana de 17 de setembro de 1787, onde os ‘pais fundadores’ que a redigiram deixaram expresso, dentre outros direitos, a liberdade de todos os homens. Dos 34 (ou seriam 36?) estados americanos à época, 7 se recusavam a cumprir a lei e libertar os escravos. Não restou, portanto, outra alternativa aos democratas, senão guerrear contra os golpistas.




 
Leia também: Bolsonaro não é nazista. Mas o bolsonarismo tem, sim, traços do nazismo  

BRASIL

O leitor atento deve estar se perguntando o porquê dessa enorme digressão se o assunto é Bolsonaro e 7 de setembro. Pois bem. O psicopata homicida golpista que desgoverna o País, arrastando 210 milhões de brasileiros para o caos social e econômico, além de ajudar o novo coronavírus a ceifar 600 mil de nossas vidas (uma Guerra da Secessão!!), nesta terça-feira infame, a fim de defender o seu golpe, usou Deus e Israel (de forma mentirosa, como de costume).

O vagabundo - sim, é vagabundo! -, dentre tantas mentiras e distorções, bradou, para o delírio daquela gente igualmente vagabunda que lhe devota a vida: ‘Deus nunca disse para Israel: ‘fique em casa que eu luto por você’. Ele sempre disse: ‘vai à luta que eu estou com você’. Truco, ladrão! Deus jamais ‘disse’ isso. Sobretudo em referência à tirania abjeta de um protoditador de quinta-categoria, incapaz sequer de pronunciar corretamente as palavras em sua língua pátria.

Em um só dia, a um só tempo, o companheiro de décadas de milicianos - inclusive o que entupiu a conta de sua esposa, Michelle, com 90 mil reais em cheques, e que pagava mensalidade escolar dos filhos do senador das rachadinhas e da mansão de 14 milhões de reais, comprada por apenas 6 milhões - sequestrou o Dia da Independência do Brasil e a milenar história de perseguição, sacrifício, dor, perseverança e autodeterminação do povo judeu.





Particularmente, estou ‘cagando e andando’ para o que fala esse maníaco do tratamento precoce. E mais ‘cagando e andando’ ainda para os bordões dos bovinos que lhe adulam os ovos (nossa, Ricardo! Quanta grosseria, hehe). Mas para tudo há um limite! Roubar uma data histórica brasileira, de comum acordo com os brasileiros, é uma coisa. Inferir a Deus - e usar os meus antepassados para isso - frases de efeito a corroborar sua doença golpista, é outra bem diferente.

AQUI NÃO, VIOLÃO

Que Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, babe sua gosma autocrata o quanto quiser, a quem quer ouvir e aceitar ser súdito de déspota, mas aqui, não. Aqui é Galo! (os atleticanos irão entender, rs). Eu, assim como mais de 75% dos brasileiros, não aceitamos ditadores vagabundos - de direita ou esquerda - usarem a história (digna) a seu favor; a favor da tirania. Se quiser tentar, de fato, um golpe de Estado, que tente, mas que ao menos o faça com os próprios argumentos.

O devoto da cloroquina é mestre no ilusionismo de sua malta. Até porque, o nível intelectual-cognitivo da bolsonarada não é melhor que o dos Bolsonaros. Assim, basta dar os comandos: ‘fora, imprensa (menos os blogueiros de aluguel e a Jovem PANo); fora, STF (menos Gilmar Mendes, que decide a favor do Flávio Wonka; Toffoli, que também já deu uma ajudinha; e Kássio, que indicou); fora, Congresso (menos Collor, o novo amigo, e Lira e o centrão)’, que a manada mugirá em peso.





O estrume (vixe! Será que agora exagerei?) sonha com o golpe, e é apoiado, como se viu, por uma quantidade enorme de idiotas. Mas ele e sua coxia não passam de 20% dos brasileiros. Não passam, financeiramente e empresarialmente falando, da ínfima fração da segunda divisão da periferia do grande capital nacional. Ou seja, a chance de um golpe de Estado vingar - hoje, amanhã ou ano que vem - é zero! Ainda que, se louco o bastante, vá tentar. E tudo indica, caminha neste sentido.

Lincoln foi assassinado por sua luta pela liberdade dos escravos. Por causa disso, centenas de milhares de americanos morreram lutando ao seu lado. Bolsonaro não foi assassinado, e espero que não seja, pois quero vê-lo mofando na cadeia. Mas talvez também ‘conduza’ - senão milhares, mas algumas poucas dezenas de imbecis - de brasileiros à morte. Gente disposta a matar e morrer pelo déspota da rachadinha deve haver por aí, como havia (Adelio Bispo) disposta a matá-lo.

A diferença entre ambos (Lincoln e Bolsonaro), neste caso - porque em todo o resto só há diferenças!! -, é que um lutou pela democracia, pelo cumprimento das leis e da constituição americana, pela liberdade e pelos direitos humanos, e o outro, como se vê, luta apenas por si mesmo e sua família, por sua psicopatia e desejo autocrata, e, no limite, luta pela morte de todos aqueles que não se submetem ao seu berrante. Que encontre o destino dos crápulas. A história diz qual é.

audima