A história mundial está apinhada de exemplos de manifestações de massa, contra ou a favor de líderes populistas. Porém, raramente encontramos tais movimentos quando o assunto é, digamos, impessoal ou de cunho coletivo.
Os Estados Unidos da América, por exemplo, se engalfinharam em uma sangrenta guerra civil, não necessariamente por causa da escravidão, mas em defesa de um ‘bem maior’, a própria democracia. Por favor, repare nas aspas!
Ainda assim, a Guerra da Secessão só foi possível pela liderança popular - e, sim, populista (neste caso, positiva), de Abraham Lincoln. Centenas de milhares foram à luta - e à morte - em nome de seu líder; de uma liderança que lhes movia.
FACÍNORAS
Infelizmente, nem só de ‘líderes do bem’ vive a humanidade. Ao contrário! São a minoria. Tiranos cruéis como Lenin, Stalin, Pol Pot, Hitler, Castro, Mussolini, Mao, Chávez e Maduro infestam as páginas sangrentas da história.
Por outro lado, são raros os exemplos contrários, como o próprio Lincoln, Gandhi, Madre Teresa, Luther King, Churchill, Theodor Herzl… Cristo! Promover o bem dá mais trabalho, pois exige sentimentos nobres e resiliência.
Sim. É mais fácil reunir milhares ou milhões, dispostos a matar e a acabar com os ‘males’ do mundo, que respeitar, dialogar, ensinar, convencer, enfim, no campo do debate e do respeito, igualmente ‘acabar’ com esses ‘males’.
POPULISMO
O populismo sempre foi uma praga para a humanidade. Já listei exemplos acima e seria desnecessário nomear outros como Jair Bolsonaro, Donald Trump, Orbán ou trastes da extrema direita atual - já os nomeando, hehe.
Em todas as sociedades, ou em grande parte delas, as pessoas insatisfeitas são a ampla maioria. É lamentável, eu sei, mas raramente encontramos um país em que a desigualdade social não seja ultrajante e, via de regra, histórica.
Isso favorece a narrativa dos populistas messiânicos que, aproveitando-se do ódio e da desesperança da população, cansada por anos, senão séculos, de, digamos, segregação social, permite-se seduzir pelo discurso fácil do rancor.
PRIMITIVISMO
Não é nada desprezível, também, a índole atávica do ser humano. Sentimentos da mais pura selvageria permanecem ocultos, esperando apenas um sinal do ‘instinto de sobrevivência’, para acordarem ferozes e violentos.
Além disso, como ensinam diversos filósofos e historiadores modernos, o humano médio não é muito afeito a complexidades, e, ao contrário, adora, e adota, crenças com extrema fé e facilidade. Não à toa a popularidade das religiões.
Essa mistura, portanto, torna-se explosiva no contexto deste artigo, já que líderes populistas, intuitivamente ou premeditadamente, aproveitam condições favoráveis e emplacam seus discursos facilmente aderidos e apoiados por tantos.
IDEAIS SÃO CHATOS
A luta ideológica é um saco! Ambientalistas, socialistas, capitalistas, terraplanistas podem e devem agrupar-se em torno de suas crenças e dos seus. Porém, a partir da própria bolha, expandir a ‘causa’ é muito difícil.
Divulgar ideais é tarefa para poucos. Exige sabedoria, boa retórica, carisma, muita disciplina e resiliência fora do comum. Mais difícil ainda é, após conquistar mentes e corações, mantê-los por muito tempo, atentos e fiéis.
Grande parte da carência humana é formada a partir da ausência de afetos. Uma vez satisfeito o vazio emocional, a fila anda. Sentir-se parte de algo (grupo, causa, etc.) preenche a lacuna do desamparo, mas é passageiro.
12 DE SETEMBRO
Por tudo isso, não surpreende o ‘fracasso de público’ das manifestações contra o Bolsopetismo e a tentativa frustrada de golpe militar de Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto. Causas, raramente, são maiores que personagens.
Lula da Silva, o meliante de São Bernardo, atrai multidões, pois é uma personagem. O mesmo vale para o amigão do Queiroz. Quando convocam os devotos, acertam o alvo do desamparo, conforme já bastante explicado acima.
As pessoas são carentes de figuras, geralmente paternas e maternas. Democracia ou, sei lá, salvar a Amazônia, não preenche o vazio existencial de ninguém. Se na manifestação desse domingo houvesse um líder (popular!), a história seria outra.
2022
O que restou ainda mais claro e evidente após estes dois atos - um, pró-fascismo, e outro, pró-democracia - é que, sem um nome popular (e, talvez, populista), a tal terceira via jamais sairá da esfera da esperança e do sonho de 1/3 do eleitorado.
Lula não terá menos do que seus cativos 25% a 30% de votos. Bolsonaro não terá menos do que os seus, ainda fiéis, 15% a 20% dos eleitores. O outro terço precisa encontrar um nome que faça convergir o nem-nem: nem Bolsonaro, nem Lula.
Ao que tudo indica, esse nome não existe. Moro? Talvez. Tudo o mais constante, em 2022, eu só terei motivos para chorar. Ou serei atormentado por um chefe de quadrilha ou por um golpista asqueroso, ainda que toda semana façam uma nova manifestação. Sem liderança (com nome, sobrenome, rosto e voz), já era.