Em 2019 parti sozinho rumo a uma jornada de reencontro com minhas raízes e comigo mesmo. Muita gente considera o que se chama ‘período sabático’ como algo espiritual. Eu, ao contrário, já que creio muito pouco ou quase nada no que não seja físico e material, penso que se trata do pleno exercício das faculdades mentais, o que enseja autoconhecimento e profunda análise das emoções.
Um dos autores atuais de que mais gosto é Luiz Felipe Pondé; é dele essa maravilha: ‘o amadurecimento é, muitas vezes, uma forma de tristeza a ser transformada em companheira do percurso adulto. Todo autoconhecimento verdadeiro se inicia com alguma forma de tristeza. Esse fator é essencial, e o debate infantil sobre felicidade raramente compreende’. Raramente ou nunca?
Quase três anos depois, me encontro em outra jornada - como é o termo da moda? - disruptiva. Primeiro em família; agora só. Nada de isolamento; pelo contrário. Paisagens deslumbrantes? Inúmeras; moldadas pela genialidade humana e não pela não menos genial natureza (se bem que… bobagem! Humanidade e natureza são partes do todo). E o mesmo propósito de 2019.
Já escrevi que observar o Brasil a partir do exterior tem sido fascinante. Bem como igualmente fascinante tem sido observar a mim mesmo fora do Brasil. A minha leveza e o estado de espírito, mais elevados que o preço do dólar, vão de encontro à ‘tristeza’ do autoconhecimento citada acima pelo Pondé, e, apesar de vencerem de goleada, saem marcadas (e demarcadas!) pelo bom combate.
É triste sentir saudade. É triste sentir angústia. É triste sentir raiva - sentimentos humanos e próprios da vida. Mas, triste mesmo, talvez seja não sentir a tristeza; viver em uma bolha imaginária, em uma realidade paralela ou em um mundo de fantasias. Estar só me lembra a alegria de ter quem me ama, e a quem eu amar. Lembrei de Descartes: ‘sinto, logo existo’ (em tempo: eu sei que é ‘penso’).