Jornal Estado de Minas

OPINIÃO SEM MEDO

Vai ao Mineirão? Então leve lençol, pois lenço não dará conta das lágrimas



Desde o segundo gol contra o Juventude, eu não paro de chorar. Alguém grita ‘Galo’, e eu choro; eu vejo uma camisa do Atlético em uma criança, e choro; assisto a um vídeo ou leio algum texto sobre o bicampeão, e choro compulsivamente.





Há choro e há... choro. As lágrimas que escorrem de tristeza cortam a alma e dilaceram o coração. Há quase um ano perdi minha mãe, e toda vez que (ainda!!) choro por ela eu sinto uma dor indescritível. E quantas vezes já não chorei por este Clube?

O ser humano é o único animal verdadeiramente dotado de emoção relacionada a eventos não-naturais. As araras, por exemplo, sentem a perda de um parceiro. Mamíferos, em geral, são capazes de proteger e confortar outros da mesma espécie.

A maioria dos bichos, sobretudo os ‘pets’, demonstram comportamentos parecidos com a emoção humana, mas que são respostas instintivas motivadas, na maioria das vezes, por interesses vitais, como alimentação, conforto e proteção.

Apenas o homem chora por emoção relacionada a eventos, como disse acima, não-naturais. Eu, particularmente, sou um chorão dos grandes. Daqueles que choram até em capítulo final de novela - aliás, ainda existe novela? 

GALÃO DA MASSA

E o Galo, seguramente, é o maior motivo das minhas lágrimas nestes 54 anos de vida. Atrás, talvez não muito distante, vem o sorriso franco dos idosos, principalmente os que têm o cabelinho branco, como algodão, e os olhinhos apertados e úmidos.





Ah, choro também, fácil, fácil com gargalhada de criança. E com avós e netos juntinhos. Ou seja, hoje, no Mineirão, será um banho de lágrimas, uma enxurrada digna do Vilarinho - por falar nisso, e as obras contra as enchentes, hein, Kalil?

Teremos tudo isso e mais um pouco, junto e misturado, e ao mesmo tempo. No meu caso, um tanto pior, pois estarei cercado por amigos de décadas e suas famílias, bem como ao lado da minha esposa e minha filhota, e de um de meus irmãos e sobrinho.

E verei os maiores ídolos da história do Clube serem homenageados; nossos entes queridos que se foram, lembrados; três, talvez quatro gerações juntas, abraçadas, quase não acreditando que o dia tão esperado finalmente chegou.

E fitarei a arquibancada oposta e me lembrarei das centenas de jogos a que assisti, torrando num sol escaldante, espremido entre mais de 100 mil pessoas. Assim como me lembrarei de amigos que não vejo mais e de queridos que moram longe: Alô, Rony; alô, Gabi!!

RECORDAR É VIVER

E a cada ‘ola’, me lembrarei do Tio Paulinho - todo mundo tem um Tio Paulinho que já se foi. E de cada maldito Aragão, Wright, Simon, Rezende e outros ‘ladrões’ cruéis. E do Gérson, do Catanha, do Conceição, do Edson, do Welton Felipe, do Renteria...





E de cada ‘peste’ que infernizou cada ida minha ao Mineirão ou ao Indepa, bando de pernas-de-pau dos infernos!! Como me lembrarei de cada ‘tapa na orelha’, cada copo de xixi na cabeça, cada bolinho de feijão, cada tropeiro, cada sanduba de pernil.

Putz, como tenho história ao lado deste Galão querido. Quantos ‘causos’ eu posso contar, com uma riqueza de detalhes (imaginárias e exageradas, ou não) impressionante. Minha vida é irremediavelmente atrelada à existência do Clube Atlético Mineiro.

E este domingo será uma espécie de ‘última página’ de um livro de 2 mil páginas. Ou, mais de acordo com os tempos atuais, o último capítulo da centésima-quarta temporada de uma série da Netflix. Sim. Porque a partir de domingo, a vida do atleticano será outra.





Como já foi outra, após a Libertadores de 2013. Certos tijolos vamos deixando ao longo da vida: empregos, chefes, colegas, amigos, paixões, tristezas, esperanças e, por certo!, traumas e frustrações. É fundamental largar algumas toneladas emocionais pelo caminho.

DOMINGO INESQUECÍVEL

Muito mais que comemorar o bicampeonato brasileiro; muito mais que exorcizar todos os nossos demônios; muito mais que lembrar do nosso passado, hoje é dia de celebrar a vida, ou melhor, este momento mágico da vida. E bota mágico nisso!

Se você crê e professa alguma religião, agradeça a quem de direito. Se você é ateu ou agnóstico, agradeça a Rubens e Rafael Menin, a Renato Salvador, a Ricardo Guimarães e a Sergio Coelho. E, claro, a Cuca, à comissão técnica e a este elenco maravilhoso de atletas.

Faça valer cada mísero segundo deste dia abençoado. Acorde bem cedo e não durma antes de 23:59:59. Não será um domingo qualquer; será como nenhum outro domingo da sua vida. E acredite: tudo o que estou escrevendo e descrevendo aqui será pouco.

Por fim, se palavras têm mesmo o poder, como dizem por aí, que estas alcancem o mais longínquo vilarejo do mundo onde houver um atleticano. E que alcancem os céus de todos os credos. E que o mantra abaixo seja ouvido e repetido à exaustão, por homens e anjos:

‘Vencer, vencer, vencer. Este é o nosso ideal. Honramos o nome de Minas. No cenário esportivo mundial. Lutar, lutar, lutar. Pelos gramados do mundo pra vencer. Clube Atlético Mineiro. Uma vez até morrer (literalmente, até morrer - eu te amo desgraça! Pra sempre).




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