Jornal Estado de Minas

OPINIÃO SEM MEDO

Briga de torcida não é pior que petrolão, rachadinha e bêbado ao volante



Já perdi a conta de quantas vezes eu citei a espetacular banda mineira Skank nas minhas colunas, principalmente a música 'Indignação' e o trecho em que diz: 'a nossa indignação é uma mosca sem asas, não ultrapassa a janela de nossas casas'.





Pois bem. Eis nóis aqui travez! Domingo passado, um bandido - travestido de torcedor - morreu em uma briga de facções - disfarçadas de torcida - e o mundo acabou novamente. Então. Hoje é quinta-feira e ninguém mais se lembra disso.

No mesmo dia, após o clássico, eu - atleticano fanático -, em vez de estar comemorando, publiquei uma coluna em que cobrava a imedidata paralisação do futebol no Brasil, diante dos gravíssimos episódios de violência, ocorridos dentro e fora de campo.

Na segunda-feira, diversos veículos de comunicação - em mídias diversas - se mostravam indignados com o ocorrido. Porém, não vi ou ouvi nenhum pedido de 'responsabilidade' dirigido aos clubes, dirigentes e entidades esportivas e federações.




A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR

Todos os comentaristas e colunistas cobravam uma mudança da lei, e maior rigor das autoridades policiais e judiciais. Sinceramente - e não que estejam errados, é claro! -, isso não passa do repetido e eterno blá blá blá de quem não quer resolver nada.

Ora, em um País onde um líder de quadrilha e um peculatário disputam a Presidência; onde matar, bêbado, ao volante, rende pena de três anos de cadeia, substituída por prestação de serviço comunitário, querer encarcerar selvagens brigões é simplesmente risível.

O Brasil apura, investiga, processa e condena um culpado, em menos de 3% dos assassinatos. No Congresso Nacional, 2/3 respondem a processos penais. No Judiciário, desembargador, flagrado vendendo sentença, recebe como pena aposentadoria integral.





Todos os anos, há décadas, milhares de brasileiros ficam desabrigados e outros tantos perdem suas vidas durante as enchentes de verão. E em todas as vezes a sociedade se indigna, a imprensa grita, os políticos prometem e… nada muda! Tudo é sempre igual.

IMPUNIDADE E AÇÃO

Por que diabos meus colegas de imprensa pensam que com o futebol e a guerra de gangues o Poder Público agiria de forma diferente? A sociedade brasileira optou por não reconhecer - ou conferir - tal direito, tal poder aos nossos governantes.

Uma ação de homicídio costuma demorar nove anos para ser julgada. Cerca de 90% dos casos de estupro são encerrados sem o início de um processo. Decidimos, os brasileiros, por um legislativo frouxo e um judiciário conivente. Simples assim. Triste assim.





A única forma de se resolver a violência generalizada no futebol é com o envolvimento direto, rígido, rápido e eficaz dos próprios envolvidos. Foi assim que a Inglaterra resolveu o problema dos hooligans. Cortando na própria carne - ou melhor, a própria carne.

São os grandes clubes que devem liderar a ação. São os grandes patrocinadores que devem pressionar os grandes clubes. São as federações e a Confederação Brasileira que devem organizar essa zona toda e punir, com extremo rigor, quem não se adaptar.

FINALIZO

Seria, sim, maravilhoso os congressistas em Brasília fazerem algo a respeito. Seria, sim, maravilhoso a polícia investigar e prender os bandidos. Seria, sim, maravilhoso os magistrados punirem adequadamente. Só que, infelizmente, não é; e jamais será!

O Brasil vive 'voos de galinha'. Em tudo!! Na economia, no combate à corrupção (vide a Lava Jato), etc. As providências governamentais, em todas as esferas (municipal, estadual, federal), em todos os Poderes (legislativo, executivo, judiciário) são raras e  passageiras.





Repito: assim como a nossa indignação, nossas leis - e a aplicação destas - são como moscas sem asas, porque nós decidimos assim. Bem como decidimos, a cada evento triste, apenas berrar como malucos, exigindo providências que sabemos… nunca virão.

Um ex-goleiro do Corinthians, com habilitação suspensa, em alta velocidade, dirigindo uma BMW em zigue-zague, atropelou e matou um ambulante. É o caso que citei acima. Dias atrás, em BH, um rapaz bêbado também atropelou e matou uma moça, de 35 anos.

O atleta pegou três anos de cadeia, convertidos a pintar muro ou plantar flores, sei lá. O irresponsável (de BH) pagou fiança e responderá o processo - que irá durar uns dez anos - em liberdade. Vocês acham mesmo que brigas e mortes em estádios serão resolvidas com leis?