A discussão política inútil da vez é sobre os cachês milionários que as celebridades e duplas sertanejas cobram de municípios, estados e União - ou do cofre público que o valha - para se apresentarem em shows de caráter eleitoreiro, travestidos de eventos culturais. Sim, porque qualquer prefeito (ou governador) está sempre olhando o peixe e o gato ao mesmo tempo: cultura, sim; voto, também!
Gusttavo Lima - com TT?? - foi 'flagrado', cobrando um milhão de reais, que depois viraram 600 mil reais, que não seriam devolvidos, mas que ainda não foram pagos, enfim, de um pequeno município mineiro, Conceição do Mato Dentro, distante cerca de 167 quilômetros de Belo Horizonte, com pouco mais de 20 mil habitantes, e o caso tomou conta das páginas dos sites e das redes sociais por todo o Brasil.
A mim me parece que o caso diz muito mais sobre quem está pagando do que quem está recebendo. Porém, como tudo aqui se torna um disputa política entre radicais de esquerda e bolsonaristas (jamais confundir esta espécie com direita!!), a treta ganhou contornos irracionais. Aliás, quem nos dera se nossos escândalos e desperdício de dinheiro público se resumissem a um milhão de reais com show de música - seríamos a Suécia, hehe.
Chega a ser risível a discussão sobre a legalidade da verba gasta pela prefeitura, pois independentemente de já estar 'carimbada', ou não, para a Saúde, Educação ou sei lá mais o que, é claramente um despropósito gastar tanto dinheiro assim - com um único show -, enquanto a cidade carece de tantas necessidades. Legal ou não, aprovado ou não, o gasto é imoral. É estúpido! E por isso, como afirmei acima, é eleitoreiro.
Mas o que o artista em si tem a ver com isso? Na minha opinião, nada. Ou não deveria ao menos. Ocorre que Lima, assim como muitos de seus colegas da música (sertaneja, brega-chique, universitária e sei lá que diabo mais) são alinhados ao bolsonarismo tosco e vivem atacando artistas, simpatizantes da esquerda, que se beneficiaram da famigerada Lei Rouanet. Dizem que é mamata, 'desperdício de dinheiro público'.
Ora, o dinheiro da prefeitura não é público, não, seu Gusttavo? A Lei Rouanet, para quem não sabe, repassa dinheiro de impostos à Cultura, via renúncia fiscal; o governo abre mão da arrecadação em prol do artista. Já a contratação do show é injeção direta de dinheiro público na veia, ou melhor, no bolso. O município, no caso, recolhe dinheiro dos cidadãos (IPTU e ISSQN), além de repasses do estado e da União e deposita na conta do felizardo.
Assim, assistimos a mais uma das tremendas contradições bolsonaristas: petrolão é crime, rachadinha, não. Filho de Bolsonaro pode praticar tráfico de influência, o de Lula, não. Lei Rouanet é mamata, dinheiro da prefeitura, não. Por isso a confusão toda! Gusttavo Lima e outros sertanejos, que vivem posando de patriotas e defensores do dinheiro público, agora são atacados por suas vítimas - e nenhum dos lados tem razão, pois apenas brigam em defesa de si mesmos e de suas crenças, jamais do País e da população que lhes banca.