Jornal Estado de Minas

OPINIÃO SEM MEDO

33 milhões de barrigas vazias: a fome no Brasil vem da fartura na política

A quantidade de brasileiros passando fome no País disparou nos últimos dois anos e hoje atinge cerca de 15% da população. Segundo o mais recente levantamento, realizado pela Penssan, grupo composto por seis entidades especializadas no assunto, são mais de 30 milhões de pessoas em ‘estado de insegurança alimentar grave’.





Obviamente, a pandemia do novo coronavírus contribuiu bastante para o resultado, mas não menos importante é a culpa do governo federal, que foi incapaz de se planejar em curto e médio prazos, estando sempre mais ocupado - e preocupado! - com questões banais político-ideológicas, e em atacar a democracia e imprensa brasileiras.

Não é possível desconsiderar, também, a inflação advinda desse cenário de instabilidade política, que atirou o dólar às alturas, os juros, à estratosfera, o desemprego, aos píncaros do Himalaia, e a renda média de quem se manteve empregado, à fossa abissal das Marianas, no Oceano Pacífico, ponto mais profundo da Terra.

Agravada sobremaneira pela invasão da Ucrânia, pela Rússia, carnificina apoiada por Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, a inflação mundial, sobretudo de alimentos e combustíveis, foi a pá de cal a enterrar os estômagos dos mais pobres no Brasil, fato simplesmente desconsiderado e ignorado pelo governo federal.





Não há dia em que Jair Bolsonaro, o devoto da cloroquina, não aprofunde a crise política no País, ora atacando as instituições, ora ameaçando golpe, ora ainda desgovernando a  economia. A última investida neste sentido é a proposição de uma PEC para desonerar os combustíveis, que acarretará em mais 50 bilhões de reais de ‘estouro de caixa’.

Para piorar, a elite política parece continuar alheia a tudo e fundo eleitoral, fundo partidário, aposentadorias especiais, cartões corporativos, emendas secretas, criação de novos tribunais e estatais, concessão de benefícios multi-milionários, enfim, toda sorte de sacrilégio com dinheiro público continua a fazer parte do cotidiano nacional.

Políticos e governantes jamais deixaram de se servir das riquezas da nação e do sangue, suor e lágrimas da população trabalhadora. Jamais deixaram de achacar e extorquir a iniciativa privada independente, sobretudo os pequenos e médios empresários. E jamais deixaram de se associar aos grandes grupos e cartórios industriais e financeiros.





Para piorar o que já é péssimo, o levantamento também indicou que cerca de 125 milhões de pessoas - mais da metade da população!! - convive com algum tipo de ‘insegurança alimentar', ou seja, ou não se alimenta ao menos três vezes ao dia, ou o faz sem a quantidade e nutrição ideais, agravando o quadro de desnutrição e doenças associadas.

Não conheço político pobre. Não conheço governante faminto. Alguma coisa de muito errada há em um país onde a riqueza é gerada, de um lado, e absorvida, de outro. Há uma máxima, verdadeira, que atribui ao socialismo a distribuição da pobreza. Já no capitalismo brasileiro, isso definitivamente não ocorre. A pobreza, por aqui, é exclusividade do povo.