Demorou muito. Aliás, demorou é apelido. Foi uma verdadeira eternidade. Mas, finalmente, após 232 anos desde sua formação originária, a Suprema Corte dos Estados Unidos da América, a maior e mais poderosa democracia do planeta, é agraciada com a presença de uma mulher negra.
Amigos, pode parecer banal e eu posso parecer exagerado, mas não se enganem: estamos diante de um fato inédito e da mais alta importância e relevância histórica, que começou lá pelos idos de 1860, com um dos maiores heróis da humanidade, o 16° presidente americano, Abraham Lincoln.
Foi ele quem conduziu o processo de emancipação dos escravos, levando, inclusive, seu país a uma sanguinária e traumática guerra civil, que determinou e pavimentou irremediavelmente o caminho que soergueu os EUA ao Olimpo das nações. A Guerra da Secessão redesenhou os Estados Unidos.
Infelizmente, contudo, cicatrizes profundas e jamais curadas permaneceram na sociedade americana. A tensão social entre negros e brancos é simplesmente aterrorizante, e por mais que tenham evoluído - nas leis e nos costumes - nesta questão, poucos países sofrem tanto com a cisão racial quanto eles.
INCLUSÃO E INSPIRAÇÃO
Há um sem número de iniciativas de inclusão e de combate ao preconceito por lá. Empresas gigantescas, como Amazon, Apple, Microsoft, dentre outras, possuem programas maravilhosos, destinados ao crescimento profissional e financeiro de colabarodares negros - inclusive, desde o recrutamento.
Estados progressistas aprovaram leis duríssimas de combate à discriminação racial, e o número de negros em postos de comando nas polícias também vem crescendo significativamente. Porém, a despeito de tantos avanços, há igualmente o recrudescimento do racismo em grupos supremacistas brancos.
Há negros americanos de muito sucesso no cinema, nas artes, no esporte, que servem de exemplo e inspiram os mais jovens. Uma criança negra, que vive em um subúrbio pobre, precisa olhar para esses ‘cases’ e acreditar que pode ser um deles. E isso vale para as carreiras corporativas e os profissionais liberais.
ESTATÍSTICA
Bairros habitados predominantemente por negros, em grandes cidades como Chicago e Nova York, recebem menos dinheiro de suas prefeituras. As residências chegam a valer 70% menos. As escolas possuem orçamentos diminutos, o que influencia negativamente a qualidade do ensino e da infraestrutura em geral.
Nascer negro e pobre nos EUA, é quase uma certeza de morrer pobre. Os salários dos brancos são cerca de 30% maiores. Caros, esse assunto, por lá, é realmente muito grave e complexo. Daí, quando um fato dessa magnitude ocorre - a nomeação da juíza negra - tem de ser muito comemorado e ecoado.
200 ANOS DE ATRASO
O presidente Biden indicou Ketanji Brown Jackson à Suprema Corte. A magistrada, de 51 anos, atuava no Tribunal de Apelação Federal de Washington (DC) e irá substituir Stephen Breyer, que se aposentou. Embora histórica, a escolha não irá alterar a composição conservadora do tribunal.
Biden havia se comprometido a nomear uma juíza negra ainda durante a campanha em 2020. E cumpriu! Conforme prevê a lei americana, mesmo sem o apoio dos Republicanos os Democratas poderiam aprovar a indicação. Nesta quinta-feira (30/6) finalmente ocorreu o ato de nomeação.
Repito: estamos falando da primeira mulher negra a ingressar na mais alta corte de Justiça americana em 232 anos. Imaginem a quantidade de jovens negros que serão encorajados nas escolas de Direito por todo o país. Muito mais do que inspiração, estamos falando de justiça e reparação. Joe Biden está muito, mas muito de parabéns!