Em 55 anos, 45 deles fritando em arquibancadas mundo afora, atrás da indiscutivelmente grande e maior paixão da minha vida, já vi acontecer de tudo com o Galo.
Em 97% ou 98% das vezes, só tragédias, injustiças e eventos inexplicáveis. Já perdi uma Conmebol, nos pênaltis, depois de vencer a primeira partida por 4x0 e levar, também de 4x0, na segunda.
Já perdi um Brasileiro, igualmente nos pênaltis, invicto, com dez pontos de vantagem para o segundo lugar, em pleno Mineirão, depois de estar vencendo por 2x0. Já perdi outros Brasileiros para juiz, bandeirinha, trave, expulsão e o que mais o diabo inventar.
Já empatei jogo após estar vencendo por 5x0, aos 39 minutos do segundo tempo. Tomar gol nos últimos minutos, ou nos acréscimos, então, já perdi a conta de quantos foram. O último foi outro dia mesmo, contra o xará paranaense.
Mas não acabou, não. Já perdi 14 finais e semifinais de Campeonato Nacional, a maioria delas com requintes de crueldade, e até vi um time marroquino me eliminar da final de um campeonato mundial. Na boa, se cada derrota trágica do Atlético me rendesse um real, seria mais rico que o Elon Musk.
Nestes 45 anos de dor e sofrimento intensos, sei lá como nem por que, o pão resolveu cair com a manteiga para cima umas, deixe-me ver, quatro ou cinco vezes. No máximo, hein? Sim, o maldito deus do futebol, seguramente um cruzeirense ou coisa pior (rubro-negro), foi ao banheiro e perdeu a oportunidade de me magoar mais um pouco.
Eu já chorei muito pelo Atlético e, pelo visto, continuarei a verter lágrimas até que sequem, ou a morte me livre deste pesadelo maravilhoso. Como disse acima, poucas foram de alegria. Talvez seja este o verdadeiro significado de amor incondicional. Ou de 'morrer de amor'.
Rubens, meu jovem craque, acredite em mim: a culpa não é sua! Você só foi o 'instrumento da vez'. Pesquise a história do futebol mundial e encontre um único time tão amaldiçoado quanto o nosso. Encontre um time que, jogando com dois atletas a mais, não consegue marcar um mísero gol. E que perca, nos pênaltis, logo em seguida, para um time que perdeu as últimas cinco decisões por penais. Aposto que não encontrará.
Quando deixamos de vencer o primeiro jogo no Mineirão, semana passada, até por uma diferença razoável, nossa sorte, ou melhor, o costumeiro azar já estava selado. Faltava apenas o tradicional requinte de crueldade a que me referi acima. Sabe o jargão 'se não for sofrido não é Galo'? Pois é. Entendeu agora o significado?
A boa notícia, garoto, é que, a despeito de mais essa tragédia, a vida continua. A sua, a minha e a do Atlético. Quando caímos para a segunda divisão - essa que o nosso ex-rival está afundado faz três anos -, o imortal Roberto Abras, à época na também imortal Rádio Itatiaia, ainda no vestiário, após o jogo, disse chorando: 'gente, o Galo não acabou! Domingo tem jogo, ano que vem tem campeonato mineiro e tem campeonato brasileiro'.
E é assim mesmo, Rubens!
No futebol, um dia você perde uma final e, jogando aqui no Galo, no outro também. De vez em quando, você vai ganhar e ser campeão, mas, na maioria absoluta das vezes, irá se frustrar, amaldiçoar todos os deuses e anjos, jurar que vai esquecer 'essa porra de futebol' e blá blá blá. Só que o preto e branco, o escudo com a estrela amarela, o grito mais fanático do mundo e a torcida mais apaixonada de todos os esportes, em todo o planeta, farão você desistir rapidinho da ideia de… desistir!
Você é craque, garoto! E tem raça, tem humildade, é a cara do Atlético e da nossa torcida.
Você vai longe, rapaz! Acredite em mim. Você não é um Vargas, graças a Deus! Muito menos um Emerson Conceição (toc, toc, toc). Você irá bater outros pênaltis e irá marcar. Talvez não no Galo, hehe, porque a chance de perder será grande. Brincadeira!!
Rubens, na boa, garanto que falo pela maior parte da torcida atleticana: fique tranquilo.
Sofra, fique triste, não durma, chore bastante, mas jamais se sinta culpado. Jamais imagine que não será um grande jogador do futebol - atenção!! - mundial. Você fará fama e fortuna, e levantará muitas taças. O Atlético é o seu karma, e não o contrário.
Por fim, é o seguinte: não preciso te perdoar, pois você não precisa de perdão. Mas, ok: Cê tá perdoado! Agora vá tomar um banho, vestir seu uniforme e treinar como um louco, pois domingo tem o Coxa pela frente e precisamos reagir no Brasileirão, belê?
Encerro como costuma encerrar (suas mensagens) o nosso querido presida, Sergio Coelho: Fique em paz, fique com Deus! E como torcedor atleticano… PQP! TNC! CARAIO!!