Vossas Excelências do Supremo Tribunal Federal, insatisfeitos com o salário de 40 mil reais, coitados, dinheiro insuficiente para viver dignamente, ainda que recebam uma penca de benefícios e penduricalhos, que empanturrem-se de lagosta e vinhos raros - às nossas custas, é claro - e que torrem mais de 800 milhões de reais por ano com o próprio custeio, decidiram aumentar os próprios salários em 18% e passaram a receber 46 mil reais mensais cada um. Lembrem-se: 46 mil reais apenas de salário… fora o baile!
O Congresso Nacional, outra casa onde a remuneração é apertada e os gastos diminutos (obviamente, estou sendo ultra irônico), responsável por aprovar a singela elevação nos vencimentos dos supremos togados, sem pestanejar ou pensar por meio segundo - já que, como diz a minha querida colega de Rádio Itatiaia, a excelente Edilene Lopes, ‘quem tem c… tem medo’), mandará o chamegão e encherá as burras de quem, talvez, um dia, quem sabe, julgue um membro seu, e meterá a mão grande nos nossos bolsos outra vez.
Sim, meu caro otário, minha cara otária, somos nós, como sempre, que iremos bancar este aumento imoral e seus estratosféricos reflexos, já que o novo salário dos ministros do STF servirá de base para todas as demais categorias do Executivo, e produzirá um efeito cascata milionário. E olhem que a tigrada queria mais, hein! Representantes de diversas outras categorias ligadas ao Judiciário estão insatisfeitas, reclamando que a defasagem salarial ultrapassa 40% e que há espaço no orçamento para um reajuste maior.
Bem, espaço com o bolso alheio, sempre há. Contudo, quando este bolso precisa sustentar a si mesmo, o espaço diminui bastante, quase desaparece. Por exemplo, este mesmo Congresso aprovou o novo salário mínimo para o ano que vem, e decidiu reajustá-lo em espetaculares 6%. Mais de 75 milhões de brasileiros vivem com um salário mínimo, ou menos, por mês, e irão receber, portanto, cerca de 80 reais mensais a mais. Sinceramente, se há outro termo que não seja ‘pra puta que os pariu’, eu desconheço. Desculpem-me!
O Brasil está atolado em uma dívida pública de mais de 6 trilhões de reais. Já contratou um déficit fiscal extra de 280 bilhões de reais para 2023. Mais de 30 milhões de brasileiros passam fome. Outros 125 milhões vivem em insegurança alimentar. São 67 milhões de pessoas com os nomes sujos e 78% das famílias estão endividadas, sem falar nos 10 milhões de desempregados. Em um país assim, ganhando 40 mil reais por mês, conceder aumento a si mesmo com o dinheiro que falta na geladeira dessa gente toda, é de uma insensibilidade, de uma crueldade, de uma cretinice sem tamanho. Bando de imorais.