Se eu fosse candidato à reeleição, meu primeiro ato de campanha seria uma apresentação detalhada, pormenorizada dos meus feitos. Faria um 'PowerPoint' preciso e indiscutível, como aquele da Lava-Jato, escancarando a condição de líder de quadrilha (segundo o MPF) do meliante de São Bernardo, ainda que isso me rendesse, no futuro, uma condenação por mostrar - e demonstrar! - a verdade inquestionável dos fatos.
Eu mostraria aos eleitores minhas realizações, justificaria meus erros e projetaria, com dados e planejamento, minhas ações futuras. Ao final, se fosse bem-sucedido em minha comunicação (minhas satisfações, em verdade), receberia o apoio de quem votou anteriormente em mim, na esperança de que renove os votos de confiança. Do contrário, seria defenestrado do cargo e aceitaria de bom grado a decisão soberana.
Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, contudo, prefere iniciar sua campanha de outra forma. O presidente irá à Juiz de Fora (MG) e realizará um ato, relembrando o episódio da facada que recebeu em 2018. Como de costume, atribuirá, sem provas, a tentativa de seu assassinato a uma conspiração das esquerdas, e se promoverá como um enviado de Deus, que lhe salvou a vida para salvar o Brasil e os brasileiros do comunismo.
O patriarca do clã das rachadinhas certamente não falará de seu desgoverno e de seus péssimos resultados. Não tocará nas 700 mil mortes por covid-19 nem na corrupção no Ministério da Educação. Não abrirá a boca para justificar a inflação, o desemprego, a fome e a grave crise sócio-econômica pela qual passamos. E se tocar nos assuntos, como de praxe, culpará a pandemia, a guerra, o PT… a mim! Mea culpa? Sem chance.
Bolsonaro tem aptidão, ou melhor, predileção pelo messianismo tosco. Talvez, inclusive, resultado do 'Messias' que carrega no nome. Não é raro sermos enganados pela sujeição inconsciente - ou subconsciente - dos significados (sinais, signos…). Eu ouvia do meu pai, quando era criança, histórias sobre Ricardo Coração de Leão. Isso me influenciou? Não posso garantir, mas posso, na prática, considerar de alguma forma.
Sinto em desagradar o 'mito', ou decepcioná-lo, mas o Messias, que segue o Jair, é antítese do messias bíblico - ou judaico. Se a salvação, ou redenção dos humanos, neste caso, dos brasileiros, dependesse de alguém como Bolsonaro, é certo que as profundezas do inferno não seriam suficientes para abrigar 215 milhões de amaldiçoados. Em Juiz de Fora assistiremos à autoascensão (jamais confundir com assunção) de um Messias de araque.