Dentre as muitas enrascadas políticas, sociais e econômicas em que se meteu o Brasil, principalmente após a segunda metade da década de 1950, a escalada da violência urbana talvez seja, ao lado da extrema desigualdade social e do absoluto desleixo com a Educação, o maior dos nossos dramas.
Anos após ano, década após década, a selvageria foi sendo inoculada aos poucos, em doses homeopáticas, como um vírus que chega para ficar, causando toda sorte de males, porém, sem jamais exterminar seu hospedeiro, afinal, vírus não é um ser vivo, não morre, mas seu “DNA” é programado para prevalecer.
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Gonzaguinha, Mario, eu. Sofrer no Brasil não distingue gênios de idiotaFome no Brasil é sobretudo crime humanitário, e políticos são os culpadosBrasil em transe: estupro no parto, bolo com revólver, assassinato políticoVergonha: Tarcísio de Freitas, ex-ministro de Bolsonaro, vive dia de SarneyA sociedade brasileira foi se acostumando com arrastões, pistolas e até fuzis. Guerra de gangues, no Rio de Janeiro, agora é na base de foguetes (pequenos mísseis) disparados dos morros. Estupro, tráfico, assassinato, “novo cangaço”, basta ler as manchetes diárias - sim!, diárias - que o sangue jorra farto pelas telas.
PSICOPATAS À SOLTA
A psicopatia é inerente ao ser humano. Desde os primórdios existia, existe e existirá. Não se trata disso minha abordagem. Contudo, a psicopatia pode ser, senão controlada, ao menos, digamos, “domesticada”. Educação, prevenção, controle e, não sendo eficazes quaisquer destas medidas, aprisionamento e tratamento severos e duradouros.
Eis aí, portanto, a questão e o objetivo deste texto. O que fazemos, como nação (sociedade civil e poder público), neste sentido? Educamos, prevenimos, punimos? A resposta é sabida por todos: não! Os mais de 50 mil assassinatos por ano são auto explicativos. Neste caso específico, o psicopata estava à solta; por quê? Quem o soltou?
Para quem não sabe, o selvagem havia sido condenado por um feminicídio anterior, quando enforcou uma mulher com o próprio sutiã e ainda, não satisfeito, introduziu um rato em sua boca. Condenado a 14 anos de prisão em 2008, ganhou mais cedo as ruas por decisão judicial. Estava em liberdade condicional. Livre, assim, para matar outra vez.
O sistema carcerário brasileiro não reabilita ninguém. Ao contrário. É uma produção em série e em grande escala de criminosos. O garoto entra como “aviãozinho do tráfico” e sai como traficante. Entra como ladrão e sai como chefe de quadrilha. Entra como “lobo solitário” e sai como membro de facção do crime organizado.
CRIME ORGANIZADO
Sim, no Brasil surgiu, há décadas, o crime organizado. E o nome é próprio e propício, pois funciona como as melhores empresas, com organogramas e governança corporativa. Pior. Vem introduzindo representantes nas câmaras municipais, assembleias estaduais e no Congresso Nacional. Aos poucos, pois, vem tendo participação política.
Querem um exemplo crasso e irrefutável: a questão das armas. Desde a posse do presidente Jair Bolsonaro, o número de armas em circulação explodiu. Com a desculpa dos tais CACs (Colecionador, Atirador e Caçador), a compra, a posse e o porte foram facilitados tremendamente. Estou chamando o presidente e os congressistas de criminosos?
Bem, não me atreveria a tanto, mas, sim, são, no mínimo, facilitadores do crime organizado. Decretos presidenciais, por ora suspensos por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), não apenas permitem a compra indiscriminada de dezenas de armas e de milhares de munições por CAC, como proíbem até mesmo o rastreio deste arsenal.
É isso mesmo! O Exército não pode nem sequer rastrear o destino disso tudo. Aliás, instado a se posicionar, disse que para controlar todo esse armamento, que saltou, em 3 anos, de 300 mil peças para mais de 1.1 milhão, precisaria de 12 homens (doze), por 180 dias, trabalhando na questão. Mas o Exército, tadinho, não dispõe de tamanho efetivo.
LABIRINTO SEM FIM
O crime organizado conta, hoje em dia, portanto, com fornecimento oficial, ou melhor, oficializado de armamento e munição. Ou alguém acredita que milhões de armas, inclusive fuzis, e dezenas de milhões de balas de todos os calibres, estão mesmo sendo utilizados apenas nos clubes de tiro e/ou para caçar coelhos e pardais?
Historicamente, partidos de esquerda sempre se manifestam contra as Polícias e o Poder Judiciário, ao mesmo tempo em que “abraçam” os criminosos, invocando o famoso “Direito dos Mano” (Direitos Humanos), preferindo cuidar dos agressores e não das vítimas. No caso dos feminicídios é ainda pior, pois parte da sociedade culpa as próprias mulheres.
O brasileiro, senão por natureza, tornou-se um povo bruto, violento. Agredimos uns aos outros por tudo - e por nada! Uma discussão besta de trânsito termina com uma bala no peito. Uma discordância política termina numa facada mortal. Um jogo de futebol termina com uma barra de ferro na cabeça. Uma discussão de bar termina em morte.
E tudo isso ocorre ao arrepio das leis que, ainda que brandas, existem. Porém, ou não são aplicadas ou são aplicadas com máxima parcimônia. E quando são, no decorrer dos poucos anos de punição, acabam sendo relaxadas. É um círculo perverso e vicioso, que só traz dor e desesperança para todos. Ou melhor, para quase todos.
ENCERRO
Eu não defendo justiçamento, violência policial ou “vistas grossas” da Justiça para excessos investigatórios e processuais. Não sou a favor da pena de morte (sou pela prisão perpétua). Mas não há como permitirmos, indefinidamente, este estado miserável de selvageria em que nos encontramos, sob pena de a barbárie, um dia, se tornar incontrolável.
Enquanto isso, em Brasília, condomínios fechados, carros blindados e seguranças armados não faltam; abundam. E milhões de brasileiros ainda tratam estes “seres de Marte”, pois da Terra não são, como ídolos e mitos. É de chorar, viu? Fui. Por ora. Volto mais tarde.