Repito uma espécie de mantra meu: “o bom da internet é que não nos deixa mentir, e mentindo, nos desmente”. Textos meus, elogiando e criticando Sergio Moro (muito mais elogiando do que criticando), há aos montes, basta um Google para encontrá-los.
Considero o ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça um tipo de herói, alguém que, pouco importam os motivos pessoais, interrompeu, no peito e na raça - com certos abusos, é verdade! -, o período mais corrupto de nossa sempre corrompida história.
Considero-o, também, um sujeito de extrema coragem, já que mandou para a cadeia os maiores e mais poderosos criminosos do País, de traficantes internacionais a corruptos do colarinho branco, igualmente bandidões internacionais.
Mais ainda: trancafiou o chefe da maior quadrilha política (sim, quadrilha, pois aquilo não era um partido) que o Brasil já conheceu, o Partido dos Trabalhadores (PT), haja vista a quantidade de tesoureiros e outros filiados presos por corrupção.
Moro jamais deveria ter aceitado o convite de Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, e deixado sua carreira de magistrado para se aboletar no desgoverno que aí está. Pior. Uma vez aceitando, tão logo se deparou com o que viu, deveria ter caído fora.
O marreco, contudo, não apenas correu para o antro da perdição como, uma vez diante da “putaria” que ali imperava (e impera), continuou. Só pulou fora, ou melhor, foi “pulado” fora, quando já não lhe restava outra alternativa. Aliás, já não restava alternativa nenhuma.
Em seguida, saiu da pior forma possível: pelos fundos e atirando. Foi o que bastou para se transformar no pária número 2 do Brasil, odiado por bolsonaristas e lulopetistas. O número 1? Fácil. Bolsolula, a dupla formada pelo mensaleiro e o rachador.
No limbo político-eleitoral, restou ao marido da “conja” ser feito de joguete pelos tubarões profissionais. Ouviu o canto da sereia do Podemos e se deparou com um partido nanico, sem estrutura nacional e sem dinheiro. Desencantado, deu tchau!
Ouviu o canto da sereia parte II e quebrou a cara. Seduzido pelo União Brasil, perdeu a chance de disputar a Presidência quando contava com 10% das intenções de voto. Restou-lhe, como consolo - um belo consolo -, a disputa pelo Senado.
A sorte lhe sorriu e o eleitor paranaense, mais ainda. Moro desbancou seu padrinho político, Álvaro Dias, e foi eleito no domingo passado. Como pau que nasce torto, morre torto, lá foi o ex-desafeto de Bolsonaro declarar apoio a… sim, Bolsonaro!
Enxovalhado pelo patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias em dinheiro vivo e pelo séquito fanático que o idolatra, o “mulher de malandro” poderia se declarar contra o chefão do petrolão, sim, mas se manter, digamos, neutro. Mas não.
Ao mesmo tempo, o maridão da Micheque - apelido popular da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, por causa dos 90 mil reais em cheques do miliciano Queiroz - poderia ignorar o apoio de seu bibelô. Mas não. Ambos ensaiam os primeiros passos do novo acasalamento.
Dois anos e meio depois da troca pública de tapas, vem a troca - não tão pública - de beijos. Bolsonaro disse: “não tenho nada desabonador para criticar Sergio Moro. Está superado tudo, é daqui pra frente. Todos nós evoluímos”. Haja omeprazol, não é mesmo?
Eis aí o motivo pelo qual tenho verdadeiro asco e desprezo por 99.999% dos políticos do País. Essa gente é de uma sem vergonhice anormal, de uma falta de respeito pelo eleitor atroz. Junte todos e não irão equivaler a um grama de estrume da pior qualidade.
Adeus, Moro! Continuarei eternamente grato pelo que você fez. Provavelmente, continuarei gostando e aprovando a maioria de suas pautas. Mas minha prateleira reservada aos bons ganhou novo espaço, e minha coxia para picaretas, um novo membro. Babacão!