Jornal Estado de Minas

RICARDO KERTZMAN

Depois da urna eletrônica e a imprensa, Bolsonaro cria e ataca novo inimigo

Primeiro, o alvo da fúria autocrata foi o Congresso Nacional, até que então foi lá e o comprou, com o apoio à eleição de Arthur Lira, com Ciro Nogueira na Casa Civil e o orçamento secreto de 20 bilhões de reais





Depois, foi o Supremo Tribunal Federal que, após um abraço em Dias Toffoli e uma pizza com Gilmar Mendes, resultou em uma aliviada na barra do filho Flávio “Rachadinha” Bolsonaro. Assim, o jipe, o cabo e o soldado, de Dudu Bananinha, não foram acionados.

Em seguida, foi a vez do TSE, especificamente as urnas eletrônicas. Conseguiu avacalhar a imagem do sistema eleitoral brasileiro e atirou milhões de cidadãos contra a higidez histórica e comprovada das eleições no País, há pelo menos 25 anos.

Paralelamente, demonizou a imprensa e desacreditou alguns dos maiores veículos de comunicação do Brasil (obviamente, aqueles que o criticam: Globo, Estadão, Folha, CNN, Band, Istoé, Veja…). Jovem Pan, SBT e outros adesistas, não. Estes são de Jesus.





Perseguiu sistematicamente jornalistas (Vera Magalhães, Patrícia Campos Mello, Jamil Chade, dentre dezenas de outros) e políticos (João Doria, Rodrigo Maia, Flávio Dino…), e incentivou violência contra ex-aliados (Joice Hasselmann, Alexandre Frota etc.).

O Congresso Nacional, que nunca foi exemplo de aceitação popular, viu sua imagem ir para o vinagre. O STF, há bem pouco tempo respeitado, não sem a própria culpa, foi para o vinagre. O TSE, nunca antes contestado… vinagre! A imprensa? Melhor nem comentar.

Pois chegou a vez das pesquisas eleitorais. Chegou a vez dos institutos, empresas privadas que operam no perfeito livre mercado, tão decantado pelos liberais de araque. O que restará de informação à população? O WhatsApp e a Jovem Pan?

Quem tem de punir empresas que prestam maus serviços é o consumidor. É diferente de empresas criminosas, estas, sim, merecedoras da Justiça. Se os institutos erram, que quebrem um após o outro. Quem é Bolsonaro para determinar a extinção de um setor?

Mussolini ficaria com inveja (foto: Google Imagens)
Este sujeito destrói, um a um, os pilares da democracia. Além de destruir as fontes de informação, arma indiscriminadamente a sociedade, aliás, arma indiscriminadamente seus loucos. Um pesquisador do Datafolha foi espancado. Chegará o dia de um cadáver?

Voltando às pesquisas, não custa lembrar, houve institutos que davam a vitória a Bolsonaro no primeiro turno. Serão investigados? Serão criminalizados? Os que apontaram Lula com 30% dos votos, por exemplo, prestaram bons ou maus serviços, hein, Messias?

É inaceitável o uso do aparato estatal para perseguição à pessoa física ou jurídica. É inaceitável o uso da democracia para corroer a democracia. O que está em curso vai se tornar ainda mais danoso quando uma horda de iguais assumir o poder ano que vem.





Uma PEC qualquer (Proposta de Emenda à Constituição) de cunho autoritário, seja contra a imprensa, os institutos de pesquisa, o STF, enfim, contra os “inimigos” de Deus, Pátria e Família encontrará guarida nas duas Casas legislativas e será facilmente aprovada.

Inclusive, uma que reforme a Suprema Corte e que, por exemplo, aumente o número de ministros ou determine, sei lá, aposentadoria compulsória. Uma vez com maioria no Congresso e no STF, o caminho para uma ditadura constitucional está pavimentado.

Alguém, por acaso, não conhece a história da Venezuela? Ou histórias semelhantes, com variações, aqui e acolá do tema, como Hungria, Turquia e Polônia? Regimes autocratas “democráticos” têm começo, e é exatamente assim como estamos assistindo. 

Ou Bolsonaro encontra um freio, já!, ou não saberemos o fim. Ou melhor, sabemos, só não queremos enxergar. Quase metade da sociedade, e eu sei lá o porquê, não quer enxergar. A democracia brasileira, após o regime militar, jamais esteve tão ameaçada assim.