Por Ricardo Kertzman
O Galo coleciona “bombas” históricas em seus quase 115 anos de vida - dentro e fora do campo, aliás. Nelinho, Éder e Hulk explodiram goleiros e fizeram a alegria da Massa com seus petardos certeiros. Já os inúmeros processos judiciais de outrora e a auditoria recente de 2020, feita pela Kroll, empresa especializada em investigações corporativas, sobre as administrações anteriores, detonaram artefatos bem menos agradáveis para o torcedor.
O Galo coleciona “bombas” históricas em seus quase 115 anos de vida - dentro e fora do campo, aliás. Nelinho, Éder e Hulk explodiram goleiros e fizeram a alegria da Massa com seus petardos certeiros. Já os inúmeros processos judiciais de outrora e a auditoria recente de 2020, feita pela Kroll, empresa especializada em investigações corporativas, sobre as administrações anteriores, detonaram artefatos bem menos agradáveis para o torcedor.
Agora, uma outra explosão de grandes proporções se avizinha, e o Clube Atlético Mineiro promete viver novos dias de grande emoção e embate político. O assunto é delicado, pois envolve o passado (um presidente histórico), o presente (a nova casa em construção) e o futuro (como será registrada a Arena) do atual campeão brasileiro, mineiro e da Copa do Brasil. Talvez tenha chegado ao fim o período de calmaria na sede de Lourdes.
JABUTI
Em 6 de novembro de 2017, o Conselho Deliberativo analisava e votava questões relacionadas ao orçamento do ano seguinte. Durante o encontro, contudo, uma questão fora da pauta, portanto não comunicada aos membros, entrou em votação, surpreendendo os presentes e, mais ainda, nos dias seguintes, os não presentes. Na política, isso recebe o nome de “jabuti”, quando parlamentares infiltram temas para serem votados.
Imaginem os leitores, por exemplo, que vá ao plenário da Câmara dos Deputados uma votação para, sei lá, aumento dos benefícios dos congressistas. Como é garantido o “sim”, já que nunca votariam contra as próprias regalias, um deputado qualquer inclui na pauta um assunto do interesse dele, que não foi debatido previamente com os colegas, e, aproveitando-se do descuido dos demais, vê aprovado aquilo que gostaria.
NOME DO ESTÁDIO
Foi mais ou menos isso que ocorreu na assembleia que citei acima. O nome oficial do novo caldeirão do Galo, a Arena MRV, é Estádio Elias Kalil, um ex-presidente do Clube e pai de Alexandre Kalil. Por quê? Bem, porque, a despeito de não constar na ordem do dia, a escolha do nome foi sugerida (por um único) e votada pelos demais presentes. Eis o jabuti alvinegro, ainda que não “contrabandeado” em uma outra votação.
O torcedor atleticano pode - e deve! - estar se perguntando: a homenagem é merecida? Totalmente. Em que pesem as inúmeras situações, digamos desabonadoras, relacionadas à gestão do clube pelo ex-presidente Alexandre Kalil, Elias, que não tem nada com isso, foi inegavelmente um dos maiores e melhores presidentes da história do Atlético, e seu legado não se confunde com o de seu filho, nem muito menos diminui.
ASSEMBLEIA
Porém, o que terá de ser discutido em algum momento, podendo alterar radicalmente a história, é se houve irregularidade estatutária, ou não, na referida votação. Muitos conselheiros ouvidos por esta coluna encontram-se bastante contrariados por terem sido sumariamente excluídos da decisão sobre o nome do estádio. E mais: por que outros nomes históricos como Walmir Pereira e Nelson Campos não foram lembrados?
Se, oportunamente, após franco e amplo debate sobre o tema, for considerada nula a votação anterior por infração estatutária (o estatuto do Atlético é claro sobre convocação, pauta e deliberação das reuniões do Conselho), em uma possível e próxima assembleia, os conselheiros atuais, devidamente cientes do assunto, terão de definir, em pauta especifica, o nome oficial da Arena MRV. Inclusive, e por que não?, até mesmo manter o de Elias Kalil.
ALEXANDRE
Kalil, o filho, é sempre reativo a qualquer contrariedade, por menor e mais banal que seja. Imaginem, então, a possibilidade de não ter o sobrenome no registro da Arena. Aliás, a meu ver, ainda que o nome seja o do pai, é, de certa forma imerecida a honraria, pois Alexandre foi prefeito de BH e, indiretamente, responsável por anos de atraso na obra e por milhões de reais em custos não previstos, como as contrapartidas espantosas exigidas pelo município.
Além disso, se é fato que venceu a Libertadores (2013) e Copa do Brasil (2014), igualmente fato foi a delicada situação em que entregou o alvinegro a seus sucessores, com inúmeros “senões”, muitos deles relacionados a temas, no mínimo, discutíveis, envolvendo a contratação de familiares e despesas desnecessárias. O Atlético só não quebrou graças aos tais 4 Rs (Rubens e Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador).
ARENA MRV
Há uma máxima de que gosto muito: quem não conhece o passado está fadado a repetir os erros no futuro. O grupo que hoje comanda o Atlético inaugurou uma era de grau máximo em governança corporativa. Processos rigorosos, inclusive de “compliance”, ditam as regras no Galo. Por que, então, permitir que um possível vício estatutário formal prevaleça em favor de mera homenagem a uma família que passou pelo Clube?
O novo estádio do Galo já é e será, ao menos pelos próximos dez anos, Arena MRV. O Mineirão, para quem não sabe, chama-se Estádio Governador Magalhães Pinto. Pode parecer, portanto, assunto de menor importância o nome oficial, mas, assim como nossos nomes são escolhidos por nossos pais, nada mais justo que a escolha do nome da arena seja feita por todo o Conselho Deliberativo do Clube, e não apenas por alguns conselheiros.