Por Ricardo Kertzman
Sempre fui um cara de muitas dúvidas e poucas certezas. Há quem goste de ser uma metamorfose humana; eu não. Ao mesmo tempo, não me sinto bem no papel de múmia. Resumindo: não sei se vou ou se fico, muito antes pelo contrário.
Em 2018, no segundo turno, já declarei isso inúmeras vezes, por ojeriza à cleptocracia lulopetista eu votei em Jair Bolsonaro. Mas, dois ou três meses após o início do mandato, percebi a burrada que fiz e abandonei o trem fantasma. Entrei e saí ligeiro, pois.
Mal começara o governo e o amigão do Queiroz já conspirava abertamente contra a democracia, ora pregando o fechamento do Congresso, ora incentivando a violência física contra ministros do Supremo, ora, ainda, atirando seus bate-paus contra a imprensa.
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Moro e Bolsonaro: xerifão da Lava-Jato junto de réu da Lava-Jato; é o amorDebate: pintou um clima entre Bolsonaro e Moro; Lula perdeu o rumo de casaSe perder, Bolsonaro deveria passar a faixa a Lula? Na minha opinião, nãoDe atleticano para atleticano. De órfão para órfão. A dor da saudadeMais recentemente, após já ter comparado os negros a gado de corte, desejado a morte de um filho para não vê-lo “beijar um bigodudo” e lamentado a existência de índios, passou a desacreditar a fome no País, dizendo não crer que existam famintos em nossas ruas.
O patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias, compradas com panetones e dinheiro vivo, reúne as piores características dos piores facínoras da história humana: agressividade, impiedade, falsidade, cinismo, sociopatia, autocracia, crueldade...
Para piorar, em gigantesca parte da sociedade, e falo aqui de cerca de vinte, vinte e cinco milhões de brasileiros, afloraram comportamentos semelhantes, haja vista a virulência com que os tais bolsominions tratam os “inimigos” do mito. Tiro, porrada e bomba é pouco.
Petistas já foram mortos a pauladas, facadas e tiros nestes últimos meses. Jornalistas e entrevistadores de institutos de pesquisas já foram espancados por bolsonaristas fanáticos. Amizades de décadas e relacionamentos familiares foram pulverizados em minutos.
Semana passada, no feriado de Nossa Senhora, em Aparecida, a horda de fanáticos da Bolso-CBF agrediu um cristão por estar com camisa vermelha, e também a equipe de uma TV local por estar trabalhando. Ou seja, bolsonarizaram até um santuário nacional.
Vídeos com bolsonaristas armados, exibindo suas carabinas e seus trabucos, há aos montes por aí. Prefeituras e estados aliados, no dia das crianças, resolveram promover exibições de armas e simulações de combate. A agenda de turno é violência e morte.
O deputado federal mais votado do Brasil, Nikolas Ferreira (PL), de Belo Horizonte, prega abertamente homofobia e transfobia. Dias atrás, Onyx Lorenzoni, bolsonarista que concorre ao governo do Rio Grande do Sul, ofendeu de forma grotesca seu rival.
Eduardo Leite, que disputa a reeleição, é homossexual. Onyx disse que, caso seja eleito, “o estado terá uma primeira-dama de verdade”. Há como ser mais asqueroso, mais… escroto? Primeira-dama de verdade é aquela que recebe 90 mil reais em micheques?
Amigos queridos, obcecados e paranóicos, dizem procurar países para morar caso o chefão do mensalão seja eleito. Por quê? Ora, porque o Brasil vai virar a Venezuela. E não adianta lhes dizer que Rio, Minas e São Paulo, além da Câmara e do Senado, são antipetistas.
Nas empresas, funcionários são ameaçados de demissão se votarem no PT. Nas comunidades carentes, ricos, supostamente filantropos, ameaçam deixar de prestar caridade aos necessitados caso votem no PT. É simplesmente asqueroso.
Eu desafio o mais extremo bolsominion a desmentir quaisquer dos fatos que apresento acima. Aliás, desafio a desmentir o que fez Damares Alves, usando bebês e crianças (que fariam sexo anal e oral), para promover o Messias, salvador da infância e da juventude.
Por onde quer que eu vá, os exemplos da desgraça bolsonarista saltam aos olhos. O bolsonarismo é incompatível com a civilidade, democracia e, por que não?, dignidade humana. Ao menos de pretos, pobres, mulheres, homossexuais e nordestinos.
Nunca há um fundo do poço para Jair Bolsonaro, eu sei. Mas dizer que “pintou um clima” ao ver “meninas de 14 ou 15 anos, arrumadinhas, bonitinhas”, imaginando tratar-se de prostitutas infantis, é repugnante além do imaginável e aceitável.
O ministro do TSE, Alexandre de Moraes, proibiu a veiculação do vídeo em que Bolsonaro aparece dizendo tal barbaridade. Contudo, pergunto: haverá ministro disposto a pedir, no mínimo, um inquérito a respeito? É só uma pergunta, ok, Xandão?