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Estado de Minas RICARDO KERTZMAN

Virou várzea: TSE, políticos e imprensa corroem a democracia brasileira

Nossa democracia foi rebaixada à segunda divisão, e poderá cair para a Série C. O Brasil, independentemente do vencedor, seguirá fraturado como jamais esteve


20/10/2022 11:31 - atualizado 20/10/2022 12:37

Ministro do STF e TSE, Alexandre de Moraes
Xandão: juiz destemperado, apitando jogo de várzea (foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil/EM)
A mais recente decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de impor censura prévia à Rádio Jovem Pan parece ser o epílogo de um filme de horror que insiste em não terminar. Ou de um jogo de futebol de várzea, onde todos estão errados, dos atletas indisciplinados ao juiz despreparado, passando pelos torcedores violentos.

Em primeiro lugar: censura (prévia ou não, vide rodapé desta coluna) é inadmissível, inaceitável e intolerável. Tenho escrito aqui, com relativa frequência e insistência, a respeito do autoritarismo eleitoral contra as pesquisas de opinião. O governo Bolsonaro e seus aliados têm se comportado como censores fascistoides.

Em minhas manifestações, sempre alerto: a gente sabe como o autoritarismo começa, mas nunca como termina. O presidente, seus aliados e sua militância fanática operam um processo de destruição institucional sem precedentes no país. Para eles, nada presta e nada serve: imprensa, TSE, Congresso, STF, urnas eletrônicas, pesquisas…

A verdade, para essa gente truculenta e autoritária, a virtude e a razão só estão juntas de si e dos seus. Do outro lado - o lulopetismo -, ainda que de forma muito mais velada e tímida, os ataques às instituições democráticas e o jogo sujo eleitoral sempre foram característicos e presentes. Basta lembrarmos o que fizeram em 2014: “o diabo”, segundo Dilma Rousseff.

Em 2018, finalmente, o PT encontrou um adversário à altura na baixaria eleitoral. Mas o bolsonarismo consegue ser ainda mais inescrupuloso e aguerrido. Para cada “chute no saco” desferido pelo petismo, bolsonaristas devolvem dois, sendo um, no pescoço. Lula e seus bate-paus descobriram que Bolsonaro não é a Marina Silva. Agora, que aguentem.

Na esteira do derrame do chorume que transbordou, cada vez mais politizado e menos legalista, o Supremo Tribunal Federal (STF), após ir e vir, convenientemente, na prisão e soltura do ex-presidiário (sim, ex-presidiário!!) Lula da Silva, contaminou o colegiado eleitoral, que mais perdido que cego em tiroteio, anda metendo os pés pelas mãos.

O ministro Alexandre de Moraes - Xandão para os íntimos, hehe - encarnou o juiz trapalhão, perdido, autoritário que, em meio ao jogo sujo dos atletas (dos dois times), que insistem em distribuir caneladas, descumprir as regras e ofender o próprio árbitro, não consegue controlar a partida, expulsa todo mundo, estraga o “espetáculo’ e desagrada a todos.

Repito os três Is acima: censura é inadmissível, inaceitável e intolerável. Mas os jogadores (os políticos) são igualmente culpados E a imprensa - certo tipo de imprensa - tem muita culpa no cartório também. Juntos, transformaram as eleições em partida de várzea, tornaram as torcidas (os eleitores) inimigas mortais e rebaixaram a democracia.

Sim, aproveitando a analogia com o futebol: nossa democracia foi rebaixada à segunda divisão. E corre o sério risco de cair para a Série C. O Brasil, independentemente do vencedor no dia 30, seguirá fraturado como jamais esteve. E custo a imaginar que se recupere tão cedo. Nós e as gerações futuras pagaremos o preço da  irresponsabilidade.

No primeiro parágrafo eu falei em epílogo, pois acredito, infelizmente, que não chegamos ao final, e que, no fundo do poço, ainda existe um alçapão. O lulopetismo e o bolsonarismo são movimentos de massa e, juntos, majoritários, além de interdependentes e retroalimentados. Com muito esforço e insistência, nossa classe política conseguiu nos levar à nossa hora mais escura.

* Um internauta da Rádio Itatiaia, onde participo de um programa diário (Conversa de Redação, de 8:40h às 9:00h), fez uma observação sobre censura. Ele disse que não há censura prévia, pois toda censura seria prévia. Conforme meu comentário (vídeo acima), concordo, discordando. Há, sim, a censura posterior, como ocorreu, recentemente, com a revista eletrônica Crusoé e com o jornal Estado de São Paulo, que tiveram reportagens censuradas após a publicação. Um forte abraço ao internauta e muito obrigado pela audiência e participação.

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