Jornal Estado de Minas

OPINIÃO SEM MEDO

Prefeito de BH, Fuad Noman, 'dá show' na Parada do Orgulho LGBT

Paradigma e paradoxo são palavras que ganharam o mundo corporativo já há alguns bons anos. Paradigma é um conceito das ciências e da epistemologia que define um exemplo típico ou modelo de algo. É a representação de um padrão. Paradoxo é uma declaração aparentemente verdadeira que leva a uma contradição lógica. 





O paradigma: Pessoas mais jovens pensam, ou ao menos tendem a pensar, de forma mais progressista e aberta que pessoas mais velhas. Como qualquer outra forma de comportamento humano - e social -, não se trata de absolutismo comportamental. Trata-se, no máximo, de uma regra, e toda regra tem sua ou suas exceções.

O paradoxo: Um senhor de 75 anos de idade pensa que a orientação sexual das pessoas deve ser respeitada e, principalmente, humanos que somos, heterossexuais ou não, com todas as variantes possíveis e imaginárias, devemos conviver em harmonia, em sociedade e em perfeita paz social, já que dotados de razão, emoção e inteligência.

Já um rapaz de apenas 26 anos pensa exatamente o oposto. Para ele, gênero sexual é uma escolha, e como tal, pode e deve ser combatida por quem “escolhe” o contrário. O senhor acima, provavelmente, foi criado em um ambiente pouco plural e muito fechado. Já o jovem não pode alegar o mesmo em defesa de sua inaceitável intolerância. Paradoxal, não?

Falo aqui de dois políticos belo-horizontinos: o recém eleito deputado federal bolsonarista Nikolas Ferreira e o atual prefeito da capital, Fuad Noman. O rapaz, recordista brasileiro de votos, tem como principais (senão únicos) bandeira e discurso político o preconceito explícito e virulento contra homossexuais e a intolerância voraz contra transsexuais.





Já o senhor de cabelos ralos e brancos, com o olhar humano de quem não precisa mais se travestir de personagem para ganhar votos, considera um gay, uma lésbica, um(a) trans ou quaisquer outras identidades de gênero seres humanos como ele próprio, e acolhe como um pai, um avô, ou melhor, como um prefeito de uma cidade, a todos os munícipes.
    

Antero de Quental, escritor e poeta português (1842-1891), deixou-nos uma importante lição dentre tantas: “A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança. V.Exa. precisa menos cinqüenta anos de idade, ou então mais cinqüenta de reflexão”, disse ao também poeta Antônio Feliciano de Castilho (1800-1875), em um entrevero literal.

Eis aí. Os cabelos brancos do prefeito Fuad exalam o frescor que deveria exalar do jovem extremista. O prefeito não precisa menos cinquenta anos de idade para ter mente e coração abertos para a pluralidade, ou cinquenta anos mais de reflexão. Já o adolescente que não amadureceu, mesmo com 27 anos, mantém a gravidade só aceitável em uma criança.

Parabéns, Prefeito Fuad, pela envergadura moral gigantesca nestes tempos de intolerância máxima. O senhor honra seu nome e cargo. O senhor honra sua condição de pai e avô. Que sirva, não de lição, pois não se dá pérolas aos porcos, mas de reflexão e, talvez, inspiração aos Nikolas da vida: Não é cristão segregar. Não é patriótico separar. É justo e imperioso tolerar.