O dia amanhece em Belo Horizonte e a vida segue seu ritmo inexorável, com ou sem Milton Nascimento nos palcos, com ou sem o Galão da Massa na Libertadores, com ou sem Jair Bolsonaro, ou Lula da Silva, na Presidência da República, pois o relógio biológico de cada um e o tic-tac da história não sesubmetem às angústias individuais, ou coletivas, dos viventes à toa que ocupam a Av. Raja Gabaglia e infernizam a região.
Impressionante e assustadoramente, contudo, para muita gente a realidade factual cedeu espaço para outra, paralela, em que os campos de visão e compreensão se apequenaram de tal forma que já não existe mais lugar para a lógica e a razão. A dissonância cognitiva é tamanha que negócios, família, amigos, futebol, enfim, nada mais tem valor e tudo perdeu o sentido diante da ameaça do “monstro comunista”.
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Ao falar sobre a fome, Lula cai no choro. Haja estômago para tanto cinismoPretos, pobres, nordestinos, gays: o ódio nunca esteve tão forte e próximoPais em surto estão criando filhos horríveis; tornarão o Brasil inabitávelCOP27: Lula, "a alma mais honesta do País", reembarca nas asas da Lava JatoMimados, birrentos e injustos, atleticanos cospem no prato em que comeramUm importante parceiro comercial, eu diria uma espécie de “patrão”, executivo de primeira classe, respeitado no Brasil e no mundo, estreitou de tal sorte seu campo de visão que hoje imagina ser uma peça fundamental na manutenção da liberdade no País, ainda que estimule a destituição antecipada do presidente eleito Lula da Silva. Por óbvio, nem este parceiro é fundamental, nem a liberdade está ameaçada.
Tentar mostrar para os tiozões e tiazonas do zap, nas ruas e na internet, nos escritórios e nos almoços de família, nos botecos e nos restaurantes estrelados, que o Brasil não vai acabar, que o comunismo não existe há décadas (se é que de fato já existiu) e que Lula não irá transformar o País na Venezuela, nem muito menos Alexandre de Moraes se tornará ditador da nação, neste momento de hipnose coletiva é inútil e disfuncional.
O melhor a fazer, portanto, é encher o espírito de paciência e esvaziar o saco de preguiça, porque logo virá a Copa do Mundo, depois, as festas de fim de ano, a posse no novo governo e, principalmente, o carnaval, momento em que nem o mais bolsominion dos bolsominions abdica de escapar da realidade e viver a fantasia, ainda que, neste caso, seja justamente o contrário, hehe.