Não há solução simples para problemas complexos, não há parto sem dor, não se faz omelete sem quebrar ovos… não se combate golpistas sem que, vez ou outra, ou até com indesejável frequência, excessos sejam cometidos. Um dos problemas, contudo, e a Lava Jato mostrou isso, é que tais excessos, amanhã, acabam servindo ao propósito dos criminosos de hoje, ontem e sempre.
Sergio Moro, Deltan Dallagnol e companhia embarcaram em uma luta de vida ou morte contra o tal “sistema”, ou “mecanismo”, à época em que ocupavam cargos no judiciário. Não havia como impedir a continuidade da cleptocracia lulopetista e trancafiar seus chefões, dentre eles o atual presidente da República, na base do “papai- mamãe”. Tudo deu certo até Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, resolver retornar o país à ditadura.
Augusto Aras, nomeado por Bolsonaro, e o STF enterrou de vez qualquer possibilidade de justiça, contando com o voto do ministro bolsonarista Kássio Nunes Marques. Sistema, mecanismo, bolsopetismo ou simplesmente Brasil?
Daí em diante, entraram em cena os capas pretas. Lula foi descoordenado, Moro e demais tornaram-se ou políticos ou processados e os bandidos, um a um, foram soltos. A Lava Jato foi extinta por Xandão parece trilhar o mesmo caminho. Tornou-se sua missão garantir a democracia no país. Porém, parece, tornou-se obsessão trancafiar os golpistas, principalmente os mandantes, mais especificamente (talvez) o grande chefe, Jair Bolsonaro. Para isso, o ministro cujos poderes são inéditos e o ímpeto incansável, costuma “meter os pés pelas mãos” e exceder, além do razoável, os limites do Estado de Direito.
Sua nova frente de investigação assemelha-se ao ato que instituiu a anistia no Brasil: ampla, geral e irrestrita. Ao seu alcance e de suas quebras de sigilo estão praticamente tudo e todos que tiveram ou mantiveram contato com os bolsonaristas golpistas. Obviamente, haverá filtros, sigilos, garantias etc., mas jamais um juiz, ou a Justiça brasileira, em tempos democráticos, foram tão longe.
Sou sinceramente grato ao Xandão por ter lutado e garantido as eleições de outubro. Ficarei muito feliz em ver todos os golpistas, de A a Z, enjaulados por anos e anos na Papuda. Mais feliz ainda se as investigações chegarem ao clã das rachadinhas e das mansões milionárias compradas com panetones de chocolate e dinheiro vivo. Só não quero assistir a arbitrariedades, justiçamento e anulação de sentenças no futuro. Um velho ditado diz que “a diferença entre remédio e veneno é a dose”. Juízo, “cabeça de ovo”. Juízo.