Jornal Estado de Minas

RICARDO KERTZMAN

Vou apontar o dedo, sim. Quem apoiou os gagás nos quartéis são cúmplices

Só eu sei como e quanto fui xingado nos últimos meses. Só eu sei a dor de ver amigos queridos transformados em zumbis bolsonaristas. Só eu sei o que passei diante da possibilidade de perder algo que me tem sido tão caro. Só eu sei o que foi enfrentar gente verdadeiramente poderosa, aliada à sanha golpista do bolsonarismo.





É verdade, não sou o único. Como eu, cerca de 6% do eleitorado brasileiro, algo como 9 milhões de pessoas (que não se deixaram capturar por populistas cretinos de direita ou de esquerda e suas agendas autocratas). Porém, poucos desses lúcidos compatriotas sabem de fato o que é ser perseguido por suas opiniões, principalmente públicas.

Tornei-me, aos olhos dos selvagens bolsonaristas, um comunista, petista, esquerdista e sei lá mais quais “istas”. Logo eu que sempre combati (intelectualmente falando) com extremo vigor o lulopetismo e as esquerdas Brasil e mundo afora. E tornei-me, também, sempre de acordo com os zumbis, pau-mandado dos veículos de imprensa em que trabalho.

Minha esposa e filha sofreram com comentários estúpidos de gente estúpida. Inclusive “parentes” (entre aspas, pois não tão parentes assim). Um evento festivo que prezo como poucos, que ocorria ininterruptamente há 12 anos (salvo em 2020 por causa da pandemia), foi cancelado pela imbecilidade coletiva. Caramba! Isso foi imperdoável.





Hoje, ao menos até agora, os asininos de plantão estão calados. Um e outro ensaiaram algum resmungo, algum “mas”, alguma forma de relativizar ou de transferir a responsabilidade do ocorrido - e por terem apoiado tamanha insanidade. Como é mesmo: manifestações democráticas, liberdade de expressão? Ora, vão te catar!

Como poderia ser democrático pedir golpe de Estado? Como poderia ser pacífico querer depor um presidente eleito? Como poderia ser liberdade de expressão espancar jornalistas? Como poderia ser patriotismo depredar patrimônio público? Como poderia ser cristão ameaçar e até mesmo matar pessoas apenas por votarem no PT? 

O que aconteceu em Brasília era óbvio, e só não enxergou quem não quis - por ignorância ou cumplicidade. Quem passou pano para os gagás das portas dos quartéis é igualmente responsável. Pedir que o Exército agrida, torture e mate brasileiros, rezando Ave Maria, de joelhos, não muda o anseio por um golpe militar na base do tiro, porrada e bomba.

Não há como defender judeus pedindo a volta do nazismo. Não há como defender pretos pedindo a volta da escravidão. Como, então, defender liberdade e democracia pedindo a volta da ditadura militar? Repito: ajoelhados, ou não, rezando o Pai Nosso, ou não, cantando marchinha militar, ou não, atentado contra o Estado de Direito é crime.

Tenho guardado em minha memória todos os nomes e rostos de amigos e ex-amigos, colegas de trabalho, conhecidos, enfim, cada “cretino” que defendeu Jair Bolsonaro (que é diferente de votar nele e detestar, como eu detesto, Lula e o PT), incentivou manifestações golpistas e pediu - que piada!! - “intervenção militar constitucional”.

Está na hora, sim, de apontar o dedo e acusá-los do que são: ou burros, ou ignorantes ou golpistas. Particularmente, farei isso a cada oportunidade, e não por revanchismo ou para dizer “eu avisei", mas para que, uma vez humilhados pelos fatos, ao menos tentem ser pessoas melhores. Quem sabe, menos piores? Agora, toma, que esse Bolsonaro é seu!