É aniversário da minha mãe. Ou melhor, foi ontem.
Quando criança, e ainda sinto os arrepios, me lembro das intermináveis sessões de cafuné nas costas que minha ela me fazia. Talvez daí minha admiração por mãos femininas com unhas grandes e esmalte claro. Entendem agora, caras Adriana e Sophia?
Já adolescente, uma amiga ao meu lado. Sempre assistíamos à TV juntos e passávamos madrugadas em busca de filmes e programas minimamente interessantes - lembrando que, à época, não havia canais fechados nem streaming.
Jovem adulto eu contava - e como! - com uma espécie de sócia. Sempre forte, firme e disposta a me ajudar em tudo, principalmente nas primeiras experiências profissionais e amorosas, sobretudo nas horas em que o mundo desabava sobre minha cabeça.
Um pouco mais tarde, uma relação mais equilibrada, quase um casamento entre adultos que aceleravam (eu) e desaceleravam (ela). A vida mudara completamente para ambos, acho que para melhor. Os percalços iam e viam, mas superados “de letra”.
Casei-me, tornei-me pai, mudei-me para perto, depois para longe, e finalmente para dentro outra vez. Quem conhece, sabe. Os anos passando, a maturidade chegando (para mim) e a velhice (para ela). Tal é a natureza, tal é a lei. Acho que foi Kardec.
O filho virou pai, a mãe virou filha, a casa dela se foi, a minha se tornou a dela. Eis a primeira enorme perda irreparável: a casa da mãe! Na boa, tá aí um lugar que jamais deveria deixar de existir. E os cafunés também.
Não tenho mais a minha mãe ao meu lado. Desde de dezembro de 2020, a tenho apenas dentro de mim. Não basta, mas fazer o quê? Na falta do corpo, tento preencher o vazio com as memórias. Boas e ruins. Ou outros assuntos.
Dormi me perguntando: qual das minhas mães fez aniversário? A que está enterrada no cemitério israelita de Belo Horizonte é que não foi. Puta que pariu! Que saudade da porra! Quem foi o FDP que inventou essa merda de a mãe morrer?