Jornal Estado de Minas

OPINIÃO SEM MEDO

Os brutos também choram: depois de Lula, é a vez de Bolsonaro; buéé

Não há dúvida de que a idade nos deixa mais emotivos. Quanto mais velhos, mais chorões ficamos. Além disso, o maldito remorso, ou a consciência pesada, por mais que a imoralidade, ou maldade, seja a guia, vez ou outra, no banho, no escurinho do quarto, naquela hora mais escura, a angústia bate forte e o choro transborda: quero minha mãe!

Lula e Bolsonaro resolveram chorar com mais frequência. O ex-mito, agora mero fujão, nos últimos dois ou três meses abriu a torneirinha d’alma e apareceu chorando ao lado da esposa, em lives, em cerimônias e agora ouvindo música sertaneja nos EUA, junto a um investigado por crimes de assédio e abuso sexual. Bela companhia, não?

Já o ex-tudo (ex-condenado, ex-presidiário, ex-corrupto e ex-lavador de dinheiro) deu para chorar em quase todos os discursos que faz. Chora por causa da fome - dos outros, claro -, da sua história, da sua prisão, da sua eleição… só não chora por causa do mensalão, do petrolão e dos 300 mil reais que acabou de torrar em diárias de hotel de luxo.





Chorar é da nossa natureza e essencial aos homens. Choramos desde os primeiros segundos. Fome, dor, medo, alegria, tristeza… o choro é o banho que limpa as sinapses e inunda o coração (figurativo). Eu, particularmente, sou um chorão daqueles. E quanto mais eu choro, mais… eu choro! Eita, trem bão - principalmente ao som de Pink Floyd.

Choro pensando na minha mãe, que se foi, e na minha filha, cheia de vida e alegria. Choro pela Libertadores de 2013, ou o bi-campeonato em 2021, e pela eliminação contra o Palmeiras, nos pênaltis, ano passado. Choro pela tarde com os amigos, e quando a hérnia na L4 ataca. Mas não choro pelas maldades que fiz, pois nunca as fiz.

Lula e Bolsonaro, imagino, ao passarem a vida em revista, do alto de décadas encontram e reencontram os verões passados e o que por lá fizeram. Não deve ser fácil carregar dezenas de milhões de desabrigados, famintos, doentes, mortos e miseráveis brasileiros nas costas, de um lado, e dezenas de milhões de reais na conta bancária, de outro.





Lula chora bem-vestido, bem-alimentado, morando em palácio, cercado de serviçais e poder. Bolsonaro chora em Orlando, sentado à mesa farta, barrigão à mostra, cama king size à espera. Enquanto isso, em Banânia, sob as encostas que ruíram ou nos xilindrós de Brasília, descamisados - e camisados da CBF - penam pelas lágrimas de seus guias.

Não. Não aceito choro público de gente assim. Putin não chora, e se chora, não é por bons motivos. Maluf não me comove, como não me comove a terceira idade golpista, dormindo em colchonete. Guardo minhas emoções, solidariedade e empatia para quem merece. Lula e Bolsonaro, definitivamente, não fazem parte da minha lista de lágrimas.