Quando não entendo de um assunto e desejo opinar a respeito, já que é da minha natureza, “corro atrás” de todas as informações possíveis e impossíveis, sempre atento aos interesses e propósitos de quem as fornece e, principalmente, “ouvindo” os dois lados da moeda. Com o fechamento do Aeroporto Carlos Prates não está sendo diferente.
Recebi farto material informativo e ilustrativo a respeito, tanto da associação Voa Prates, interessada na manutenção do aeroporto, quanto do Poder Público (Prefeitura de BH), interessado no fim das operações do equipamento e, a princípio, disposto a edificar moradias, praças e outros espaços destinados à população. Causa pra lá de justa, aliás.
Tenho profundo respeito pelo prefeito de Belo Horizonte, Sr. Fuad Noman, e não escondo de ninguém. Ao contrário. Sempre tão crítico com políticos e governantes como sou, a despeito de não concordar com muita coisa na gestão municipal, considero o chefe do executivo de BH um dos melhores que já tivemos, e é justo reconhecer publicamente.
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O Aeroporto Carlos Prates é um equipamento público de suma importância para a cidade, o estado e, por que não?, o país. Forma mais de mil pilotos por ano, é centro de manutenção de aeronaves de pequeno porte, local de apoio para a polícia e o corpo de bombeiros e, o mais importante, fonte de renda direta para mais de quinhentas famílias.
Dados oficiais - e não caneladas de quem acha que entende do assunto - do DECEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), órgão do Comando da Aeronáutica, mostram que, nos últimos vinte anos, seis pessoas morreram em acidentes no Carlos Prates contra quatorze vítimas fatais na Pampulha, mesmo com movimento 52% superior.
A insegurança de quem mora no entorno do aeroporto é sempre tema de debates acalorados, e com razão, já que uma vida (qualquer uma) é insubstituível. Assim, é bom lembrar que “apenas” (pelo amor de Deus, reparem nas aspas, ok?) duas mortes ocorreram com pessoas em solo, nos arredores do Carlos Prates, nos últimos trinta anos.
Ou seja, se o motivo para o encerramento das atividades é a falta de segurança dos aviadores e moradores da região, é um motivo falso. E como poderia ser diferente, diante de tantos outros aeroportos - muito maiores e mais movimentados - encravados nos centros urbanos de diversas grandes cidades espalhadas pelo mundo?
BRASIL E O MUNDO
Apenas no Brasil temos, em São Paulo, Congonhas e Campo de Marte. No Rio, Santos Dumont e Jacarepaguá. Em Campinas, Amarais. Em Curitiba, Bacacheri. No mundo, então, nem se fala: La Guardia, em Nova York. Aeroparque, em Buenos Aires. Carrasco, em Montevidéu. Kinshasa, no Congo, onde vivem 17 milhões de pessoas.
E é assim em Londres, Lisboa, Miami, Santiago, Las Vegas e dezenas de outras cidades grandes mundo afora. Aliás, há uma correlação direta entre desenvolvimento social e econômico e o número de pistas em cada localidade. Quanto maior o número de aeroportos, maior o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da cidade.
No Brasil, por exemplo, temos, em primeiro lugar (IDH), Florianópolis (SC) com três pistas. Em segundo, Vitória (ES) com duas pistas. Em terceiro, Brasília (DF) com nove pistas. Em quarto, Curitiba (PR) com três pistas. Finalmente, em quinto lugar, Belo Horizonte (MG) com duas pistas (Carlos Prates e Pampulha) - Confins fica em outro município.
Estes são apenas alguns dos dados socioeconômicos e relativos à segurança que me foram apresentados pela Voa Prates - todos checados e confirmados. Não tenho avião particular, não tenho amigos proprietários de avião particular, não conheço intimamente ninguém desta associação e não tenho qualquer interesse pessoal nessa história toda.
ENCERRO
Quem me conhece pessoalmente ou me acompanha aqui no Estado de Minas e Portal UAI, revista e site da Istoé e na Rádio Itatiaia sabe de minha independência e, sobretudo, responsabilidade ao opinar. Meu único propósito é levar a quem me lê, vê e escuta a melhor opinião, baseada nas melhores fontes e informações. E é o que se encontra acima.
Considero, portanto, um grave retrocesso o fechamento do Aeroporto Carlos Prates, salvo argumentos reais e oficiais que até então desconheço. Aliás, retrocesso que só não será maior que a restrição do Aeroporto da Pampulha, uma das piores decisões políticas da história de Minas Gerais, cujo pai tem nome (Aécio) e sobrenome (Neves).