A vereadora Flávia Borja, do PP, um dos partidos com maior histórico de corrupção do Brasil em todos os tempos, provavelmente uma auto declarada “cidadã de bem”, assumiu seu lado Nikolas Ferreira, pejorativamente apelidado “chupetinha” - talvez por seus dotes ocultos pelo inconsciente ainda inseguro - e proferiu uma fala abjeta, asquerosa, digna dessa gente extremista que se arvora dona do país, sempre em nome de Deus (qual?), da família (a própria!) e da pátria (que piada!).
O bom de ser, digamos, antipetista assumido e declarado, me blinda da ignorância reducionista dos brucutus, que podem me xingar de tudo, menos - como é mesmo? - “comunista". Aliás, o dia em que essa gente tosca souber o que é comunismo, talvez entendam que contrabandear joias, empregar funcionários fantasmas e “rachar” seus salários, receber três proventos diferentes com dinheiro público e comprar mansões com panetones de chocolate e dinheiro vivo não são atitudes cristãs nem patrióticas.
NAZISTOIDES
Por alguma razão me lembrei do Chucky, o Boneco Assassino, e de Tiffany, sua noiva, mais conhecida como a Noiva do Chucky. Sinapses são sinapses e meus parcos neurônios, pouco capazes de operações e pensamentos complexos, me induzem a pensar em Nikolas e Flávia como uma espécie de casal. Os bonecos assassinos vivem na ficção. Os vereadores, não. Mas subjugados por leis e um certo resquício de civilidade. Porém, da maneira que pensam, falam e se comportam, não sei, não.
Para essa gente, a orientação sexual ou é como querem ou é coisa do demônio. Imaginam o mundo como uma reserva de mercado da própria fé. Veem uma transexual como a Inquisição via Joana d’Arc. Fosse possível, talvez mandassem para a fogueira todos os que não seguem sua fé. Alguns judeus - e sou judeu! - não gostam de comparações ao Nazisno, mas entendam: Hitler, sua seita e seus crimes não se restringem ao Holocausto. A gênese da ideia ariana não é muito diferente do tipo de intolerância que vemos por aí.
TRANSFOBIA
Insurgindo-se contra as transexuais, em Reunião Ordinária realizada nesta terça-feira (4/4), na Câmara Municipal de Belo Horizonte, Borja declarou: “Esse é um projeto que vai contra a defesa real das mulheres na cidade de Belo Horizonte e contra a liberdade de crença, liberdade de religião e aquilo que nós entendemos: que Deus fez homem e mulher e o que passar disso não é bem-vindo na nossa sociedade”. Ai, ai, ai… Precisou invocar Deus para defender uma ideia, vereadora? Tá faltando argumento para sustentar sua tese?
A ira da valente é por um projeto sobre o uso de banheiro feminino por mulheres trans. Ela, como Nikolas e a irmã transfóbica, acha que essas moças têm de fazer xixi ou em banheiro masculino ou em alguma sarjeta. Na boa, se eu fosse pai de uma menina trans, essa gente teria muito trabalho comigo - bem mais do que já têm. Bando de insensíveis, desumanos, hipócritas, inseguros (com a própria sexualidade). E sim: nazistoides ordinários! Quem é você, Flávia Borja, para determinar quem é, ou não, bem-vindo à sociedade?
LIBERDADES
Mas o bom é a frase: “contra a liberdade de crença”. Didi Mocó diria: “cuma”? Uma lei que permite o uso de banheiro masculino por moças trans atenta contra a liberdade de crença? Fumou erva daninha, senhora? Vá professar sua crença em paz, em seu templo, como quiser; nenhuma trans está preocupada com sua fé e como a exerce. É você que, por acreditar que “Deus fez homem e mulher e o que passar disso não é bem-vindo na nossa sociedade”, atenta contra a liberdade religiosa e de crença dos outros.
E AÍ, VEREADORES?
A vereadora tem o direito de acreditar e defender o que quiser e bem entender, desde que o faça de maneira compatível com o cargo e a Casa. Se é contra a questão dos banheiros, que vote da forma que melhor represente seus eleitores. Porém, o que não pode, e este é o motivo desta coluna, é atacar as mulheres trans, chamando-as de “marmanjos”, ou o contrário, “mulheres que por alguma crença acham que são homens”. Deixe de ser estúpida, criatura! Vá estudar, vá ler trabalhos científicos, abandone a cloroquina, saia à luz.