Jornal Estado de Minas

OPINIÃO SEM MEDO

Pedofilia, abuso sexual e a vocação e o desejo de ser estúpido ou desonesto

Na minha participação desta manhã de sexta-feira (5/5) no programa Conversa de Redação, da Rádio Itatiaia, sobre o padre que foi preso em São Paulo por produzir e armazenar pornografia com adolescentes, expliquei a diferença entre doença (pedofilia) e crime (abuso sexual de menores). Nos comentários do chat e nas minhas redes sociais, li a tradicional frase: "passando pano".





Vamos lá: Pedofilia, segundo a própria Organização Mundial de Saúde (OMS), desde 1960, é uma condição catalogada como doença - transtorno pedofílico - que tem como característica uma espécie de disfunção sexual, alterando o padrão de normalidade (sexo entre humanos vivos e adultos) de uma pessoa.

A doença faz com que o indivíduo tenha intenso e constante desejo de se relacionar sexualmente com crianças. Outras doenças do gênero são necrofilia (desejo sexual por cadáveres) e zoofilia (desejo sexual por animais). Atenção: pedofilia e abuso sexual de menores não são exclusividade de homens; há mulheres também.

O crime, segundo nosso código penal, é justamente o que o padre mineiro, de 54 anos, ao menos segundo as investigações, cometeu: abuso sexual de menores de 14 anos e o consumo, a armazenagem e/ou a distribuição de pornografia infantil. Crime que, a meu ver, tem de ser punido com todo e o máximo rigor.





Muita gente - alguns por ignorância, alguns por estupidez e outros ainda por pura má-fé - acredita que diferenciar abuso sexual de pedofilia significa relativizar ou proteger o criminoso, mas é justamente o contrário. Identificar e tratar os pedófilos protege as potenciais vítimas desse pessoal.

Aliás, segundo os dados do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica (NUFOR ) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em matéria divulgada pelo G1, apenas cerca de 20% a 30% dos abusadores são pedófilos, ou seja, a grande maioria dos criminosos não é doente.

Os abusadores infantis são definidos por seus atos. Já os pedófilos, por seus desejos. E alguém assim, que não procura ou recebe ajuda, pode vir a se tornar um abusador. Por isso é tão importante a distinção e a não generalização do termo. De nada adiantará prender um pedófilo abusador e não tratá-lo adequadamente, pois deixará a prisão e cometerá novos crimes.
 

ENCERRO 


Certos termos e certas condições são, sim, confusos e complexos, e nem todos têm a oportunidade, capacidade ou mesmo interesse em entender e compreender assuntos diversos. Porém, quando alguém opina - com fundamento! -, caberá ao ouvinte (ou leitor) ao menos buscar, honestamente, a verdade da mensagem. Caso o contrário, tratar-se-á ou de mero estúpido ou de legítimo delinquente. Categorias que, infelizmente, abundam nas redes sociais e nos comentários de internet hoje em dia.