Sempre que retorno de viagem ao exterior, passo alguns dias de puro desalento com o País. Tudo me toca, tudo me comove, tudo me revolta.
Os ônibus caindo aos pedaços, lotados de trabalhadores cansados, me tocam. Os moradores de rua, famintos e doentes, me tocam. O noticiário político e econômico me toca. Nossa precariedade urbana me toca. Fosse dono do Brasil e instituiria uma lei: cada brasileiro teria direito a conhecer um país desenvolvido qualquer, ao menos uma vez na vida.
Sim, porque é necessária a comparação, o contraponto, ver o que se perde e onde se poderia estar. Não é possível que seja assim para sempre. Caramba! Eu nasci na merda, vivo na merda e morrerei nela (entendam como “merda” o Brasil), mas minha filha e netos também?
jamais menti para minha filha, como meus pais e avós - bem-intencionados, coitados - mentiram para mim: “o Brasil é o país do futuro”. Diziam que jamais veriam um país melhor, mas que eu e meus filhos, sim. Tsc, tsc tsc.
Repito sempre que Minha primeira viagem internacional foi aos Estados Unidos, em 1994. De lá para cá, por generosidade do destino, fiz dezenas de outras viagens e conheci dezenas de outros países, por todos os continentes do mundo, e posso assegurar: isso aqui não presta!
Têm nações piores? Claro, inúmeras. Muito piores, aliás. Fome, guerras, doenças e miséria absoluta assolam dezenas de países mundo afora, infelizmente. Mas poucas dessas nações, ou nenhuma, reúnem as condições que reunimos para não ser assim.
A matéria-prima natural que nos abunda é a boa moral e os bons propósitos de nossas elites que nos faltam. Deus nos sorriu, é verdade, mas é o diabo que nos faz sorrir, e isso é o que nos aprisiona no purgo. Abandonamos as dádivas e cultivamos as mazelas. Um país de muitos, para poucos.
TÃO PERTO E TÃO LONGE
Montanhas, rios, fauna, flora, litoral, clima propício, bônus demográfico… por que atiramos tudo e tanto no lixo? Por que insistimos em ser felizes - os que podem, claro - apenas durante alguns dias por ano após embarcar para a Europa, Ásia, EUA ou o escambau?
Tudo é tão simples e complicado ao mesmo tempo. Simples de resolver e melhorar. Complicado de compor, agregar. Uma sociedade não-colaborativa como a nossa não progride; regride. Quem disse? A história. Os fatos. Os países. O planeta.
Outro dia, uma idiota qualquer, repetindo o mantra dos extremistas me perguntou: “por que você não muda do Brasil?”. Para ela, a solução é essa. Para mim, a solução é outra. Se irei ou não assistir a alguma melhora - e acho que não! -, são outros quinhentos.
LÁ E DE VOLTA OUTRA VEZ
Metaforicamente falando, em paralelo ao passeio recente (real), fiz uma breve viagem a um mundo que idealizei. Fui, vi e não gostei. Aliás, detestei. Não gostei das pessoas, não gostei dos modos, não gostei dos propósitos, não gostei de nada. Nem do café! Frio e sem sabor.
Neste mundo, erroneamente idealizado por mim, as pessoas são desprezíveis, e suas atitudes também.
Querem saber? Minha conexão é com quem sofre, com quem precisa. É da minha índole. E quanto mais me distancio fisicamente da dor desse pessoal, mais emocionalmente sofro por eles - e com eles.
Ainda que a vida tenha me sorrido, a realidade me comove o bastante para jamais abandonar minha essência empática e solidária. Por isso eu voltei. Agora para ficar! Porque esse… Esse é o meu lugar. Os FDPs me aguardem. A chinela voltará a cantar.