Jornal Estado de Minas

ROBERTO BRANT//O BRASIL VISTO DE MINAS

Brasil está no grupo de risco do coronavírus

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Não é a primeira vez na história dos homens que um acontecimento súbito e inesperado surge para desafiar nossa arrogância e nos lembrar da fragilidade dos destinos humanos. Um simples vírus microscópico ameaça nossa ciência e nossa riqueza, desorganiza sociedades ricas e confiantes, humilha governos poderosos e autoritários e põe em risco o funcionamento da economia e o modo como as pessoas vivem, trabalham e se sustentam.. Como disse um dia o velho Marx:  “tudo o que é sólido desmancha no ar”.


Vivemos fascinados pelas novas fronteiras do conhecimento e nos esquecemos que fundamentalmente somos indefesos e que nossa existência se mantém por fios muito tênues e frágeis. Se esta nova doença puder ser contida com os meios de que hoje dispomos, sem maiores danos às pessoas, terá servido para descer sobre nós um pouco da humildade de que tanto carecemos.

Enquanto países poderosos e ricos como a China, a Coreia do Sul, o Japão e a Itália lutam para conter a propagação da doença e tratar as pessoas infectadas, com resultados que ainda precisam ser avaliados, e com todo o mundo se preparando para evitar o pior, fica no ar uma sombria interrogação. Como o Brasil vai lidar com esta emergência?

Esta pandemia tem duas dimensões inseparáveis. É uma questão de saúde pública: é preciso das ações mais radicais para evitar a contaminação das pessoas, com medidas drásticas e que envolvem até questões de liberdade pessoal. Também é necessário mobilizar todas as estruturas sanitárias possíveis para realizar milhões de testes e para tratar as pessoas infectadas que apresentem riscos sérios de morte, que exigem isolamento e tratamento intensivo.

Ao mesmo tempo é preciso cuidar da economia. Várias atividades econômicas de grande importância, principalmente para o emprego, vão ser duramente afetadas. Muitas empresas vão ter perda de faturamento e problemas de liquidez. No seu conjunto podem causar sérios danos a uma economia já combalida.


Antecipando-se a uma situação sanitária que está exigindo, no limite, a paralisação de países inteiros, como é o caso da China e da Itália, mas que será brevemente o caso de quase todos os países, os mercados financeiros de todo o mundo estão em modo de colapso, com as maiores perdas acumuladas em curto período de toda a sua história.

Os índices das bolsas refletem problemas graves e substantivos. Está havendo uma perda impressionante de riqueza, com o derretimento dos valores dos ativos: ações, títulos de dívida privada e títulos dos governos. Atrás disto virá um choque na situação das instituições financeiras e um aperto de liquidez e de crédito, que tornará mais difícil ainda a vida das empresas. Se esta situação durar e não for enfrentada, a economia mundial entrará em recessão, com destruição de capacidade produtiva e de empregos numa escala nunca vista antes.

A China e a União Européia tem dados sinais que vão reagir de modo tão dramático como na crise financeira de 2008. Os Estados Unidos, que em 2008 foram o epicentro da crise e o líder da reação, estão paralisados pela política e por um presidente incapaz de unir o país e de contar com a confiança dos demais lideres internacionais. Dada a dimensão da crise sanitária e financeira a ausência da liderança americana vai tornar as coisas muito difíceis.


No Brasil, repetindo, como se tornou comum, a atitude americana, nosso presidente, de início,  minimizou a gravidade do problema, atribuindo a apreensão geral a uma manipulação do pânico, para fins políticos ou ideológicos. Sua equipe econômica, fiel ao mantra liberal, também fruto de ideologia e não de saber econômico, recusa-se a intervir com a política fiscal e os bancos públicos para evitar o aprofundamento da recessão e do desemprego.

As  pessoas que tem doenças preexistentes estão expostas aos maiores riscos do coronavírus, inclusive a morte. Entre os países, os que têm lideres que pensam como os nossos, estão expostos igualmente ao maior risco – o completo colapso econômico, mais recessão e mais desemprego. Que Deus nos salve!