Qualquer que seja a nossa inclinação política, dois fatos da vida brasileira não têm como ser negados. Conforme sempre repetia o antigo senador americano Daniel Moynihan, na democracia todos têm direito à sua própria opinião, mas ninguém tem direito aos seus próprios fatos. Estes dois fatos são a estagnação da economia brasileira e o fracasso do país no enfrentamento da pandemia.
A economia brasileira não cresce há 10 anos. Em toda a década, o Brasil teve um crescimento médio anual de apenas 0,2%, um índice menor do que o crescimento da população, o que significa que, em termos per capita, os brasileiros ficaram 7% mais pobres nesse período.
Isso não é algo que se possa imputar individualmente a um só governo, porque neste tempo tivemos três governos diferentes. De qualquer modo, é um fato que sugere que governos e sociedade não têm sabido realizar o que é fundamental para um país como nosso, que acumula ao mesmo tempo tantos recursos e tanta pobreza.
Isso não é algo que se possa imputar individualmente a um só governo, porque neste tempo tivemos três governos diferentes. De qualquer modo, é um fato que sugere que governos e sociedade não têm sabido realizar o que é fundamental para um país como nosso, que acumula ao mesmo tempo tantos recursos e tanta pobreza.
O outro fato que temos que enfrentar são os números da pandemia em nosso país. Nenhuma aritmética frívola é capaz de desmentir a verdade que, com apenas 2,8% da população mundial, temos 9% dos casos e 10% das mortes pela COVID-19. Antes que alguém queira confundir uma comparação tão simples, é melhor mostrar os dados oficiais: em 24 de fevereiro, os casos no mundo atingiram 111,8 milhões, no Brasil, 10,2 milhões; no mesmo dia, as mortes no mundo chegaram a 2,4 milhões e no Brasil, a 247 mil.
Governos não podem tudo diante de uma pandemia desta natureza, precisamos ser justos. Muitas das atitudes de prevenção dependem exclusivamente de escolhas individuais, embora governos sensatos e responsáveis podem convencer as pessoas, se quiserem. Mas só o governo pode providenciar leitos e profissionais de saúde e, principalmente, vacinas para imunização.
O governo brasileiro foi durante meses indiferente à evolução da pandemia e não se moveu preventivamente para assegurar as vacinas para a população. O resultado é que com as poucas vacinas que temos e o ritmo atual de vacinação, levaremos mais de 600 dias para vacinar 75% dos brasileiros. Até aqui estamos falando exclusivamente de fatos.
O governo brasileiro foi durante meses indiferente à evolução da pandemia e não se moveu preventivamente para assegurar as vacinas para a população. O resultado é que com as poucas vacinas que temos e o ritmo atual de vacinação, levaremos mais de 600 dias para vacinar 75% dos brasileiros. Até aqui estamos falando exclusivamente de fatos.
Tudo isto que está acontecendo não precisaria necessariamente de acontecer. O Brasil, a sociedade e o governo têm recursos para se desenvolver e administrar a pandemia de uma maneira muito mais efetiva. Há populações no mundo que vivem em regiões muito pobres e que não contam com um Estado de verdade, ou seja, uma autoridade central capaz de impor a ordem legal e, ao mesmo tempo, assegurar o ambiente para o desenvolvimento da economia.
Nestas, a pobreza e a doença prevalecem, pois não há nada que as enfrente. Outras populações, ao contrário, vivem sob o jugo de um Estado despótico que domina a sociedade sem restrições ou limites. Nestes a sociedade não tem vida própria e o governo é responsável por tudo.
Nestas, a pobreza e a doença prevalecem, pois não há nada que as enfrente. Outras populações, ao contrário, vivem sob o jugo de um Estado despótico que domina a sociedade sem restrições ou limites. Nestes a sociedade não tem vida própria e o governo é responsável por tudo.
O Brasil é um país rico de toda sorte de recursos e a nação vive sob um Estado democrático, onde a liberdade é protegida por instituições e onde a economia é livre para prosperar. Então, o que há de errado conosco?
Nas sociedades democráticas, Estado e sociedade são duas faces da mesma coisa e o Estado só é capaz de funcionar se a sociedade também faz a sua parte. As sociedades passivas ou alheias às questões da esfera pública tem o hábito equivocado de lançar toda a culpa pelos seus erros e fracassos no governo, sem levar em conta que na democracia são as pessoas que elegem os governantes e são livres para manifestar sua aprovação ou rejeição.
Quando a sociedade não tem cultura de participação e de envolvimento com a política, esta é invadida e ocupada por minorias e grupos de interesse que desviam os recursos institucionais e financeiros do Estado para os seus próprios fins. Nenhuma eleição e nenhum governo salvará o Brasil sem que as maiorias sociais ocupem de vez o centro da política e empurrem para longe o fanatismo, a cobiça e a ignorância das minorias.
Se alguém é culpado por tudo que sofremos, este culpado por enquanto somos todos nós.