O essencial da discussão política estava na disputa de opiniões, não nos fatos em si. Os chamados fatos alternativos não tinham meios para circular e geralmente desapareciam logo ao nascer.
Não há mais lugar para o diálogo entre opiniões, aquilo que constitui a essência do processo político. Neste sentido, não seria absurdo dizer que estamos nos aproximando do fim da política, tal como existe pelo menos desde a Grécia clássica. Esta seja talvez a natureza da transição em que estamos vivendo, quando o velho agoniza sem que o novo já esteja à vista.
Ambos investem na manipulação da memória, procurando reescrever a história com silêncios e afirmações que se ajustem aos seus discursos. Nisto eles não inovam, pois todos os regimes totalitários do século 20 tentaram a mesma coisa.
O governo Bolsonaro, conforme a maioria das pesquisas de opinião, tem a aprovação de menos de 25% da população, depois de três anos de mandato. É pouco provável que esses índices sejam revertidos para que, ao final, ele alcance uma maioria absoluta no segundo turno. Nosso presidente é homem de ideias fixas e não mostra disposição de mudar o seu discurso, muito pelo contrário.
Em 1985 o PT se recusou a votar em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, que encerrava sem sangue o regime militar. O que queria o partido naquele momento? Derrubar o regime pela força? Não, apenas deixar que os outros fizessem o trabalho impuro enquanto mantinha a santidade do discurso, já sabedores do desfecho. Nos dicionários, isto se chama hipocrisia.
Na sua origem o PT foi o partido anticorrupção, implacável com os adversários, quando ainda era oposição em toda a parte. No governo, comandava o país durante o maior episódio de corrupção já desvendado em toda a nossa história. Apesar dos erros dos processos judiciais, o fato é que o assalto à Petrobras ocorreu de fato, conforme as provas e as confissões.