Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

Coelho precisará ter cabeça fria para superar a traição de Mancini



Os vícios no futebol brasileiro seguem mais latentes do que nunca. E é claro, tinha que ser o América o exemplo da vez. A saída abrupta de Vagner Mancini, logicamente, revela a escolha do técnico pelo dinheiro – e sim, foi uma bela grana. Não vou entrar em embate ético moral sobre um profissional aceitar ganhar mais, o que é relativo e pode dar brechas a ruídos, mas posso sim aqui pontuar como a profissão destes treinadores medianos de Série A é extremamente supervalorizada. Mancini tem um título de expressão na carreira, há 16 anos, pelo Paulista, quando ganhou a Copa do Brasil.





Mas a questão é analisarmos o quanto um profissional do meio do futebol, tão prostituído, aprende seus macetes com o tempo de como ganhar dinheiro em brechas, esquemas de demissão, admissão e premiações, sem qualquer preocupação com sua marca corporativa, sem o mínimo zelo com a imagem e reputação, saindo dos clubes por qualquer porta.

Nenhuma cultura empresarial, de nenhum nicho de mercado, aceitaria esse movimento calada. É óbvio que as possibilidades jurídicas tornam a coisa meio legítima, mas convenhamos: estes caras estão acima das instituições? Eles são tão grandes e competentes que podem ter o controle da sequência de um trabalho que envolve centenas, milhares de envolvidos? Todo o planejamento de um ano e do próximo pode ficar nas mãos sujas deles?

E quando falo aqui de envolvidos, digo sobre toda estrutura pessoal para um clube como o América existir: jogadores, comissão técnica e física, marketing, parte administrativa, trabalhista, de manutenção, esporte e saúde e, claro, toda a torcida que está ali, comprando ingresso e assinando canais de streaming para ver os jogos. Como ficam todos estes atores, que são a razão de tudo, curvados e sujeitos à decisão unilateral de um indivíduo?

Como disse, tudo bem em querer ficar rico. Aliás, o Mancini não foi atrás de prestígio nem de fazer seu nome, pois acabou de fechar as portas para Minas Gerais, além de mostrar ao Brasil inteiro que pode deixar qualquer clube a qualquer momento, independentemente do projeto estar indo bem ou não. Mancini pegou um Grêmio quase que rebaixado e com grandes chances de cair ainda. No final do ano, mesmo se cair, irá comemorar com uma grande bolada e imensa rescisão contratual. Bom para ele, mas triste para quem ainda acredita na magia do futebol.

Nas redes sociais, com toda a razão, a torcida americana ficou indignada. Não podemos cobrar racionalidade do torcedor, ainda mais com uma traição repentina destas. A verdade é que precisaremos de cabeça fria e pé no chão para recolher os cacos. Não duvido que Mancini já tinha noção da proposta do Grêmio e forçou uma derrota contra o Inter na semana passada. Você colocaria sua mão no fogo?

A única coisa que a gente tem certeza agora é que o campeonato do América precisa seguir com o foco na permanência. Feito isso, vamos fazer de tudo, inclusive tentar ganhar deles, para receber o Mancini da “pior” forma possível no Independência. Sem violência, claro, mas respondendo na bola e no campo que o América é muito maior do que a ganância dele. Avante, Coelhão, a vingança é um prato que se come frio. O mundo da bola dá voltas.







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