Tudo começou quando entrei este ano para o seleto time da LAM Comunicação (SP). Como de costume, o papo de boleiro veio rápido, e descobri que meu chefe, Luiz Antônio Magalhães, é um tricolor ferrenho, daqueles da gema.
Aliás, embora seja uma empresa de comunicação corporativa, ninguém escapa por lá das referências do mundo da bola. Para se ter uma ideia, os resultados são compartilhados sempre na forma de gols. Faz parte. Afinal, “quem não sonhou em ser um jogador de futebol?”, já cantava o Skank.
Fazia tempo que eu não me lembrava de como quase virei são-paulino na infância. A verdade é que, quando criança, a gente sempre tem esses sentimentos por alguns times, até escolher definitivamente o nosso. Então, vamos à história.
No início da década de 1990, dividia um sentimento ambíguo pelo futebol. O amor ao Coelho já era genuíno e vinha de berço, mas um pedaço do coração reservava espaço para um certo tricolor. Mas não era um tricolor qualquer.
Nessa época, o América figurava como um time regional, fazia finais de Campeonato Mineiro e até ganhava vez ou outra, como foi em 1993. Subia para a Série A, e depois caía. E por quê? Pois não conseguia segurar seus craques – e falo aqui de dois dos maiores: Palhinha e Ronaldo Luiz, que saíram no início de 1992 para o São Paulo e, literalmente, ganharam o mundo.
Foi quando então encontrei no Morumbi a possibilidade de ser grande, nem que fosse de tabela. Torcia pelos dois craques como se embaixo da gloriosa camisa branca estivessem jogando de verde e preto.
Era grande o orgulho de vê-los naquela seleção de Telê Santana, formada por Raí, Zetti, Toninho Cerezo e tantos outros. Era a chance de ser campeão mundial. Seria. Os jogadores do meu time estavam ali, e não importava se vestiam outro uniforme.
E eles não foram coadjuvantes. Ronaldo Luiz, um dos melhores laterais esquerdos que vi jogar, é chamado até hoje de Anjo da Guarda Tricolor, fama que adquiriu por salvar lances impossíveis na linha da trave. Palhinha dispensava comentários: gols de placa, uma visão de jogo monstruosa e uma classe raramente encontrada no futebol atual.
De alguma forma, naquelas duas fatídicas madrugadas (os jogos eram no Japão) – 1992 contra o Barcelona e 1993 contra o Milan –, o São Paulo teve um pouco de América e eu vibrei junto. Me senti representado e decidi que o tricolor seria meu segundo time, se é que isso existe.
O tempo passou, o encanto se perdeu depois que eles saíram do tricolor e o América mudou de patamar. Segui minha trajetória como coelho nato. Virei cronista do meu time do coração.
Mas o destino quis um reencontro e não temos o direito de contrariá-lo. Na quinta-feira, 21h30, é justamente contra esse São Paulo que faremos o jogo mais importante da nossa história. Uma vitória e uma pequena combinação de resultados podem nos colocar pela primeira vez na Libertadores.
A verdade é que teremos assunto na firma na sexta-feira, para o bem ou para o mal. Não há mesmo zoeira que resista ao clubismo, nem mesmo se o são-paulino da vez for o seu chefe. Jogo difícil, mas Milton Nascimento bem eternizou com o Clube da Esquina que “os sonhos não envelhecem”. E nem devem.