A sensação de dever cumprido depois de um ano de conquistas é certamente a maior delícia que um cronista esportivo que escreve sobre seu time de coração pode vivenciar. Hoje, me aproprio de uma sensação de paz e merecido descanso após tantas batalhas argumentativas, críticas, elogios, sugestões, sempre falando jogo a jogo, analisando o que anterior, dando o panorama e fazendo prognóstico do que viria. Chega de argumentar (por enquanto).
Neste período de início de ano, de pura reflexão e gratidão, é preciso parar para lembrar as origens, esquecer resultados e aproveitar o momento de parada no futebol para tornarmos tudo belamente mais literário. Afinal, o futebol não é esporte separado do folclore popular.
Relembro aqui, portanto, para quem não leu ainda, o texto que resultou no convite para ocupar este nobre cargo, de tamanha responsabilidade, sendo representante deste gigante que é o América no maior jornal dos mineiros. Segue:
“Ser torcedor do América me fez alguém diferente. A começar desta escolha, tomada por um incompreendido grau de paixão que me obrigou a confrontar minha autoestima desde cedo. No colégio, éramos no máximo dois em sala de 30 alunos, relutando contra a corrente. A resistência.
Com o América aprendi que o mundo não vai passar a mão na sua cabeça e que o poder de reação deve vir de dentro. Que a multidão vai ser cruel e tentar te calar e, nem por isso, será preciso mudar de opinião. Que é melhor ser raro, escasso, com defeitos e limites, mas autêntico.
Aprendi que a exclusividade tem um preço que poucos podem suportar. E o principal: que a real beleza do esporte está em te fazer superar medos e que os resultados são, em última análise, meros pretextos para histórias inesquecíveis que te moldam como gente.
E foi em alguns clássicos da década de 90 contra Galo e Raposa que tive os primeiros gostinhos de como é bom não ser igual a todo mundo. Vitórias épicas que me mostraram que nem sempre vence o maior, o mais caro ou o mais seguido.
Fazer parte daqueles 6 mil calando 60 mil, na contramão do esperado, me pareceu saboroso demais. Era tarde. Eu já era parte daquilo. Me fiz Coelho, na íntegra.
Sim, somos poucos, mas cá entre nós, alguém já nos perguntou se gostaríamos de sermos muitos? Obrigado, pai, por ter me levado um dia pela primeira vez ao nosso Independência e me ensinado a maior lição: 'deixe que falem e seja você, sempre.'”
Aos torcedores americanos, pessoas do bem e apaixonadas por este clube, meus sinceros desejos de um excelente 2022! Seremos, sempre, América. Agora, mais do que nunca.