Em Belo Horizonte, tem uma avenida que liga as regiões Nordeste, Leste e Centro-sul, que ainda é considerada como polo da indústria moveleira. Seria admirável, se não fosse trágico. Basta uma caminhada por esta avenida, entrando nas lojas e procurando por produtos, para perceber que o marketing nunca esteve por aqueles pontos de vendas. Um dos piores polos de atendimento ao cliente que eu já vi nos últimos anos. E eu percorri pessoalmente, andando por quase toda a extensão da avenida, tentando comprar uma simples cadeira.
O desinteresse dos vendedores ficou logo marcado, quando entrei em uma loja e os vendedores continuavam com as suas conversas ao telefone, ou em papos alegres, no fundo da loja. Sinceramente eu me senti constrangido em atrapalhar uma conversa tão alvissareira. Por fim, ao me atender, o prazer de dizer que não tinha as cores desejadas, ou o modelo solicitado parecia uma forma de vingança.
Eu não perdoo. Ao ser mal atendido, sempre chamo o gerente. E este era pior que o vendedor. Nervoso, dono da verdade, fez-me sair ainda mais rápido daquele lugar temeroso.
Mas, tentei outras lojas. Numa delas, os dois vendedores estavam almoçando. Perguntei pelo preço do produto e me disseram. “Está aí no produto”. E continuaram almoçando na sua santa paz. Outro constrangimento. Também, fui comprar no horário do almoço! Sair para comprar uma cadeira de home-office no horário do almoço foi o meu erro!
Achei o produto que eu queria! Perguntei sobre a garantia. Achei 90 dias muito pouco. E recebi a informação de que cadeira quebra mesmo. Ao sair de uma para outra loja, fui abordado por duas senhoras, que me avisaram para não comprar de forma nenhuma numa loja ao lado, pois tinham acabado de serem maltratadas, porque queriam trocar um produto que deu defeito e a empresa não queria cumprir o que havia prometido. Elas estavam visivelmente nervosas e revoltadas. Reforçaram comigo: "Não compre lá, você vai se arrepender".
Foi uma caminhada de muitos quarteirões. De um lado e do outro. Só recebi atendimento demorado, grosseiro, desinteressado e sem conhecimento dos produtos que estavam a venda. Percebi que há um combate negativo entre as lojas, pois, cada uma fala para tomar cuidado com as outras, pois elas nem sempre falam a verdade sobre o material de fabricação de seus produtos. Um perfeito toma lá, dá cá, em pleno polo moveleiro.
Se os comerciantes desta região continuarem desfazendo dos clientes, oferecendo um atendimento de baixíssimo padrão, sem uma filosofia, mesmo que a mais simples de marketing, em breve veremos ainda mais lojas fechando as portas.
Sem uma política de preços bem definida, com lojas sujas e escuras, com vendedores que mais parecem walking dead, ou os donos da verdade, sem demonstrar humildade e sem capacidade de ouvir os clientes, a avenida vai ficar cinzenta, vai continuar sendo uma via de ligação apenas e não um belo shopping a céu aberto, como os clientes desejam.
Eles não podem acusar a pandemia, a economia, os clientes exigentes, ou os fornecedores de seus estoques. Todos os segmentos passam por dificuldades, mas, muitos deles tem um mínimo de marketing em suas formas de atuação e têm consideração com os seus clientes e colocam profissionais para o atendimento e vendas. Ainda dá tempo. A imagem desse polo moveleiro ainda tem salvação. Os clientes devem voltar em breve, em maior número, mas, eles precisam ser bem atendidos, recebidos de braços abertos, com educação, e por profissionais com noção de técnicas de vendas e conhecedores de relacionamento humano.
Vou torcer para que as lojas da avenida sejam um ponto identificado, selecionado e quem sabe, até, preferido pelo seu público-alvo. E que haja bons relacionamentos, muitas vendas e satisfação efetiva dos seus clientes.
O marketing não aparece por acaso. É preciso ir buscá-lo, plantá-lo em terrenos férteis, fazê-lo crescer e colher os seus belos resultados. O ano seguinte pode ser o ano de virar a mesa, o criado, a cadeira, as poltronas, e obter muito sucesso. Que a avenida seja conhecida e destacada pelo seu poder de marketing.