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Por um momento de paz na pandemia

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Imagine que, aqui neste espaço, dentro de casa, a pandemia deixou de existir. Por milagre, desconhecemos o nome do vírus, sua sigla, seu número. Chega de falar sobre mortes ou vacinas, indecisões de governantes ou de empresários, prazos sem qualquer base ou certeza. Ai, que preguiça!, diria mil vezes Macunaíma, o anti-herói tropicalista de Mário de Andrade.





Que tal mudar o disco, o pen drive, o provedor de internet? Sente-se aqui, virtualmente, e venha participar de nossa roda de conversa. Vamos compartilhar coisas boas, contar piadas e casos, os piores micos, passagens da infância e relatos de viagem. A propósito, peço licença para revelar uma das experiências mais transcendentes pelas quais já passei na vida.

No último retiro xamânico em Palenque, no México, no qual tive a oportunidade de estar, mês passado, nosso grupo de mulheres foi convidado a ter a um contato íntimo com a natureza. Saímos do hotel por volta das 16h, no fuso horário local, levadas a conhecer as famosas cachoeiras da região. O sol já estava baixo.

Durante o percurso nas vans, discutíamos sobre o motivo de sair atrasadas para o passeio, perto de anoitecer. Isso lá era hora de tomar banho em cachoeira? Parecia loucura das xamãs. A aventura estava só começando. O caminho de terra era íngreme. Foi preciso descer ladeira, saltar buracos, segurar em galhos de árvores e cipós. E depois, como faríamos para voltar no escuro?

Se você racionalizasse, perderia a concentração, correndo risco de tropeçar e cair. Mais à frente, seguiam as mentoras, que tudo enxergavam. Por fim, chegamos ao poço da maior cachoeira do lugar. Nova insanidade. Hora de nadar. Tirar tênis e shorts e, já com as roupas de baixo, mergulhar na água verde-musgo.





Nem todas conseguiram, fosse por medo ou indecisão. No meu caso, resolvi me entregar ao acaso. Já me preparava para pular de cabeça, melhor forma de enfrentar o choque térmico das águas geladas das cachoeiras. “Devagar, Sandra. Um passo de cada vez”, alertou a mentora, segurando-me pelo braço. Foi a primeira lição do dia (ou da noite).

Freei o impulso. Pé ante pé, entrei devagar na água. Surpresa: a temperatura estava morna, acolhedora. Senti mais confiança. Segurando numa corda (havia uma corda), nadei em direção à queda d'água. Faltavam poucos metros, mas senti a correnteza me puxando. Era mais prudente retornar. Na volta, havia pedras escorregadias, com limo. Alguns lugares davam pé, outros não. Era preciso saber onde pisar. Segunda lição.

No meio da travessia, novo encantamento. Quem parava um pouco para respirar, lembrava de olhar em volta. Boiando na água, soltando o corpo, dava para ver o manto estrelado acima de nós. Perceber que, a todo tempo, a lua cheia iluminava o caminho. Independentemente de você ter ou não consciência disso. Terceira lição.




 
 
Havia mais pela frente. Cansada do esforço físico e espiritual, devido à abertura dos sentidos, era preciso ir embora. E dá-lhe identificar as roupas de cada uma, sapatos e mochilas, em meio à escuridão. E fazer o caminho de volta. Era necessário andar em pares, uma ajudando à outra, cada uma no seu ritmo. Não adiantava encurtar o passo. Se a colega tropeçasse, você cairia junto. Resumindo – umas dependiam das outras. Quarta lição.

Atingimos uma clareira, próxima ao estacionamento. Nada de correr para sentar no conforto da van. Vamos dar uma pausa, pediram as mentoras. Dar as mãos, formando um círculo. Com frio e fome, o comando parecia imprudente. Mais uma vez, foi preciso acreditar nas xamãs. Em terra firme, orientaram a erguer os olhos para o céu. Enxergar as estrelas, os contornos da lua cheia. Ter consciência do momento presente. Quinta lição.

Foi uma parada rápida, pedagógica. Se você não prestar atenção, a vida passa num piscar de olhos. Para que tanta correria? “Lembrem-se disso: você é a sua luz”, finalizou a xamã, sorrindo bondosamente, complacente, como fazemos com as crianças pequenas. Sexta lição.

Sétima lição: somos apenas um ponto brilhante, insignificante diante da imensidão do universo. somos responsáveis por iluminar as pessoas ao nosso redor. Não devemos nos esquecer disso. Especialmente agora, nestes tempos difíceis.

audima