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"Tudo passa." A mensagem veio escrita na máscara, presente de uma amiga jornalista, dona de brechó. Os dizeres são bordados a mão. É um trabalho artesanal simples, mas capaz de arrancar um sorriso de muitas pessoas que, em seis meses de pandemia, aprenderam a rir com os olhos. Eu também me divirto. Gosto da ideia de me tornar porta-voz da esperança.



Ando apegada à minha máscara. Evito gastá-la em momentos banais, como receber encomendas on-line, verificar correspondências ou colocar o lixo para fora. Economizo mesmo.

Cheguei a ficar triste quando manchou de vermelho, no dia em que me esqueci da inutilidade de usar batom debaixo dos panos.
Antes da quarentena, eu era daquelas mulheres só pisavam na rua levando um batonzinho dentro da bolsa.

O problema está temporariamente resolvido. Primeiro, deixei de sair de casa. Segundo, passei a aplicar o cosmético em caso de ressecamento dos lábios ou aos sábados, durante a gravação das lives do canal do YouTube Chá Com Leveza. Terceiro, isolei as bolsas no meu guarda-roupa, depois que duas delas mofaram por falta de funcionalidade.

Minha vaidade ficou reduzida a um pedaço de tecido de 20 por 20 centímetros. Tenho a minha máscara 'de sair', lugar anteriormente reservado às roupas de festa. Essas últimas, por sua vez, cederam sua posição privilegiada aos pijamas e camisolas, mais adequados à atual situação de confinamento social. O conforto falou mais alto que o glamour.



Como eu ia dizendo, reservo minha máscara nova para ocasiões importantes. Contei duas ou três idas ao supermercado, uma à farmácia e outra ao sacolão. Em fins de semana espaçados, ela me acompanha nos passeios de carro, com a família. Juntas, vemos a vista passar pela janela. As montanhas de Minas nunca estiveram tão lindas.

Custei a aderir à moda das máscaras, com estampas lúdicas, cores variadas e modelos anatômicos, ajustáveis às orelhas e ao jeito de cada um. Minha primeira máscara foi a mais óbvia possível, branca, usada pela maioria dos profissionais da área da saúde.

No fundo, acreditava que a quarentena acabaria rápido, que o adereço seria descartável e que, em poucos meses, tudo voltaria a ser como antes. Esnobei o novo normal. 

A pandemia revirou todos os valores. Até fevereiro passado, o conceito de que 'tudo passa' era levado na brincadeira. Bastava alguém citar a expressão para que o interlocutor complementasse "menos o motorista e o trocador'. Dava o mesmo efeito da piadinha do tio do pavê. De tão batida, perdeu a graça.



Um jeito de salvar o conteúdo foi trocar pela versão ampliada: "E quando nada mais tiver graça/ É só sorrir que passa". Soa simpática, mas não chega aos pés do comentário de uma pessoa querida. Ao me ver com a máscara estilosa, ela disparou: "O que está escrito aí mesmo? Tudo posso?"

Achei genial. Na hora, nem me ocorreu que a mulher talvez estivesse precisando de óculos. Minha primeira reação foi concordar com ela, entusiasmada: "Sim, você pode tudo! Nós podemos tudo!"

Intimamente, tive vontade de sair correndo pelo quarteirão, de braços abertos, feito heroína mascarada, gritando: "Sim! Você pode escolher ser mais alegre, encarar a vida pelo lado positivo, descobrir o seu verdadeiro propósito! E, principalmente, confiar que tudo isso vai passar. Sim, tudo passa!
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