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A lição dos espinhos

Era interessante caminhar entre esses homenzinhos verdes, que se tornaram ícones da cultura mexicana. Até que um deles pegou no meu pé%u2019


18/10/2020 04:00 - atualizado 18/10/2020 08:50


Para o bom observador, a natureza dá sinais. Não acredita? Caso curioso acaba de acontecer comigo no segundo retiro espiritual do México, agora em outubro. Nosso grupo de mulheres fazia uma caminhada pelo deserto de Chihuahua, rodeado por rochas enormes. A vegetação local lembrava cenário de desenho animado, com cactos distribuídos por toda parte.

A trilha exigia concentração e foco para não esbarrar nas formações espinhosas, de diferentes tipos e tamanhos. Uns traziam galhos retorcidos, outros tinham folhas achatadas (que são comestíveis por lá) ou se agrupavam em gomos, formando uma espécie de mandala natural. Entre todos eles, o ponto comum eram os espinhos.

Em destaque, sobressaem na paisagem os cactos de tronco alto e dois ou três braços, posicionados ao lado do 'corpo'. Tinham porte imponente e a cabeça erguida, como se pedissem um sombrero para espantar o calor. Era interessante caminhar entre esses homenzinhos verdes, que se tornaram ícones da cultura mexicana. Até que um deles pegou no meu pé.

Não sei dizer qual deles foi, nem de qual espécie ou tamanho. Só pensava na dor intensa do ferrão, que atravessou a sola do tênis e entrou na carne, acertando o alvo do dedo mindinho. Daquele jeito, não conseguiria acompanhar o restante da turma. Dei uma parada, arranquei o espinho com a mão e segui em frente, mancando levemente.

Curiosa, perguntei sobre simbolismo daquele acontecimento à tutora do movimento de caridade Field of Love. Conhecida como voz da Mãe Terra, Ladamira me olhou como se eu tivesse 5 anos de idade. Senti como se tivesse regressado ao jardim de infância, pedindo a um adulto para soprar o meu machucado. Com ar maternal, a tutora explicou:

– Parabéns! Você acaba de receber uma acupuntura da natureza!

A explicação da tutora foi linda, quase poética. Mas eu precisava entender melhor do que se tratava. De volta ao hotel, pesquisei novas informações no Google, que oferece milhares de enciclopédias em um único clique.

Em poucos segundos, surgiram na tela textos sobre o tratamento da medicina oriental chinesa, que já conquistou o reconhecimento de muitos médicos do Ocidente e até dos planos de saúde no Brasil. Na seção de imagens, encontrei mapas detalhados dos pontos de acupuntura e sua correlação com cada centímetro do corpo humano.

Estava lá, perfeitamente ilustrado, o dedinho do meu pé esquerdo. Em letras minúsculas, que mal cabiam no contorno do desenho, vinha a explicação que faltava: ombros. Inacreditável. Não sei quem fofocou com a natureza que eu estava com dor nos ombros, após arrastar malas pesadas de um terminal a outro do aeroporto da Cidade do México, cuja população perde apenas para a de São Paulo.

Pelo que entendi da leitura, o lado direito do corpo é ligado ao masculino e aos apegos ao passado. O esquerdo é feminino, voltado para o futuro. Mas vamos direto ao ponto. A dor nos ombros não ficou 100% curada, mas melhorou bastante.

O caso não é único. Entre as pistas fornecidas pelo mundo sutil, estão o trevo que dá sorte,  a borboleta amarela que traz alegria e a espada-de-são-Jorge que espanta mau-olhado. Já as estrelas cadentes são promessa de realização de desejos.

Há ainda quem diga que, se você receber flores, é sinal de que Deus está feliz com você. Se avistar um beija-flor, acaba de receber a visita de um ente querido que já partiu. Por último, vem a lição do cactus. Os espinhos podem ferir na hora, mas com o tempo ajudam a curar.

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