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Protegida na terra dos feijões

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O segundo retiro espiritual do México estava marcado para ocorrer em setembro, durante o período do equinócio no hemisfério norte. Não era a época mais indicada para viajar ao exterior, embora a pandemia já estivesse suavizada no fim do ano passado, tanto no Brasil quanto no México. Fiz as malas e embarquei, levando na bagagem o sobrepeso do medo. Voltei com outro tipo de peso extra, devido à maravilha da gastronomia local.





Era para ser uma aventura arriscada, mas a verdade é que me senti mais protegida lá do que aqui. Por precaução, fiz o teste de COVID-19 já no desembarque. Não ficaria tranquila sabendo que poderia expor meus filhos e meu marido ao coronavírus. Felizmente, não deu nada no resultado. Só alívio.

No fundo, eu já esperava ser aprovada. Para minha surpresa, o México aplica todas as regras de proteção da quarentena, embora o presidente de lá tenha um discurso semelhante ao do nosso. Também debocha da pandemia. Para sorte dos mexicanos, porém, não passava de bravata do governante da terra dos frijoles, que nada mais são do que feijões em espanhol.

Diferentemente dos tacos ou nachos, oferecidos nos restaurantes ditos mexicanos no Brasil, a comida típica deles é outra. São as pastas de feijão, presentes em todas as refeições, inclusive no café da manhã, servidas sobre tortillas de milho. Apesar de causar estranheza comer feijão logo ao acordar, os tais frijoles são deliciosos. O mesmo não posso dizer da guacamole de aguacate (abacate), que não me caiu bem. Questão de gosto.





Já a pimenta faz jus à fama, especialmente a jalapeña, que em algumas regiões chega a ser comida crua por eles. Minha coragem não chegou a tanto. No máximo, experimentei a salsa, que nada tem a ver com o nosso cheiro-verde. Acompanha todos os pratos e é superpicante. Cheguei a achar que fosse sinônimo de pimenta, mas, em espanhol, salsa significa molho. Se você quiser provar da pimenta de fama mundial, deverá pedir chile.

Voltando ao assunto do coronavírus, as medidas de proteção são para valer na terra dos cactos e sombrero, desde a chegada ao aeroporto. Nenhum banheiro, restaurante ou banco permite a entrada de usuários sem antes limpar os sapatos, medir a temperatura e borrifar álcool em gel nas mãos. Nas mesas e filas, o distanciamento social é real, ao contrário do que vinha acontecendo em nossa capital dos botecos, antes do novo lockdown. Os lugares são separados por um X, quer sejam ou não pessoas da mesma família ou amigos. Não adianta argumentar. Lei é lei.

Os critérios não são válidos apenas para a Região Metropolitana da Cidade do México, a segunda mais populosa do mundo, com seus mais de 20 milhões de habitantes. É maior que a Grande São Paulo, com seus 19,5 milhões de pessoas. Desde a cidade ‘más grande’ até os pequenos pueblos, as normas são iguais. No pernoite, a praça principal do município contava com uma estrutura sanitária completa: cabine de desinfecção, tapete para limpar os sapatos e pia para lavar as mãos, com sabonete líquido e álcool em gel.





Já ia me esquecendo dos cubrebocas, tapabocas ou mascarillas. Ninguém anda pelas ruas sem as máscaras, o uso é efetivamente obrigatório. Ao contrário daqui, elas não são simples acessórios, podendo ser dependuradas nas orelhas, deixadas com o nariz para fora ou carregadas nas mãos. Talvez a população seja mais consciente ou resiliente, não sei dizer. Quem sabe seja culpa do nosso jeitinho brasileiro de ser.

No final das contas, dá uma certa tranquilidade ou, para justificar o título da coluna, leveza viver em cidades mais cuidadosas, protegidas. A pandemia continua no ar, mas existir se torna mais leve até que a vacina efetivamente chegue a todos nós.

audima