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Santa por um dia

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Viver como uma pessoa santa por um dia. Esse foi o desafio proposto pela minha tutora espiritual. A tarefa não seria fácil, mas talvez fosse possível cumprir 24 horas de retidão. Haha, diriam os mais jovens, via WhatsApp. Quero até ver, disse para mim mesma, em pensamento.





Valeria a pena tentar. A recompensa seria experimentar um estado de real felicidade, que independe de aquisições, acontecimentos externos e datas especiais, como o Dia dos Namorados. Segundo a mestra Zendaya, quando se aprende a respeitar as leis universais e Deus, a felicidade se torna algo natural.
 
Em busca da verdadeira felicidade, tentarei ser santa por um dia. Como deveria proceder ao acordar? Com certeza, agradeceria a vida logo de cara. Beberia um copo de água (com ou sem limão?) e daria início às orações, antes mesmo de tomar café.

Em entrevista ao canal Chá Com Leveza, no YouTube, um professor de ioga admitiu levar entre três e quatro horas para concluir as práticas espirituais matinais.

A bem da verdade, algumas pessoas abençoadas nem dormem. Quem consegue deitar a cabeça no travesseiro sabendo da existência de milhares de pessoas precisando de orações na pandemia?

No canal do YouTube Chá Com Leveza, a médica Filomena Camilo do Vale, a doutora Filó, revelou que desperta todos os dias às 4h para conversar com Deus. Minhas mestras permanecem longos períodos isoladas, orando e meditando.





Entre os pré-requisitos da bondade, fazer o bem está em primeiro lugar. Não apenas por meio de doações e serviços voluntários, mas principalmente com boas atitudes. Parar de reclamar, de falar mal dos outros, de disseminar negatividade e desamor.

Os seres mais espiritualizados seguem votos de pobreza, de castidade, de silêncio. Passam mais de mês sem dizer uma palavra. Fazem jejum verdadeiro (não o intermitente, para emagrecer). E atribuem significado edificante a cada uma de suas tarefas. Até o ato de lavar um banheiro, por exemplo, pode expressar humildade e vontade de purificar as energias negativas da casa. Haja resiliência.

Para atingir o estado da leveza é preciso se esforçar. Fazer exercícios físicos, posturas de ioga e terapia do riso para aumentar a alegria. Vale participar de retiros espirituais e se alimentar melhor, deixando de lado a carne vermelha, no mínimo. A maior provação seria abdicar da sobremesa especial da minha irmã, que é de comer de joelhos.





Nunca Fui Santa é o nome de uma loja de roupas criativas de BH. Não sou consumista, não mesmo, mas já caí em tentação diante de suas blusas com estampas de borboletas esvoaçantes e de etéreos dentes-de-leão. Como se vestiria uma pessoa santa? Provavelmente, usando sempre as mesmas peças de roupa, doadas, de segunda mão. Sei lá.

Uma mulher santa passaria um creminho no rosto? Usaria maquiagem para disfarçar as olheiras? Faria as unhas? Isso me fez lembrar de um professor de literatura do Colégio Marconi. Ele desafiou a turma a escrever uma redação usando palavras-chave díspares, como freira, vermelho e tesoura de grama.

Meu texto ficou até interessante, modéstia à parte (falha nossa:  um santo jamais jogaria a humildade às favas). Bem, contei o caso de uma freira muito simples e devota, exemplo de amor e benevolência. Sua única imperfeição era usar esmalte vermelho nos pés, escondidos debaixo do hábito, que lhe cobria do topo da cabeça até o chão.

Ignoro onde enfiei a tal tesoura de grama no enredo. Enfiei não, encaixei. Convém evitar o uso de palavras feias, de sentido dúbio, com insinuações de luxúria.

Diante de tudo e de todos, eu confesso. Foi por vaidade que eu aceitei o desafio da mestra. E tem mais. Vencer o desafio seria motivo de orgulho. Pronto. Dois pecados capitais no mesmo parágrafo.

Desisto, antes mesmo de começar. Preguiça?




audima