Jornal Estado de Minas

MAIS LEVE

Ele está nos olhando

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis

Nesta quarentena, a arte foi a salvação para muitos. Sei de gente que começou a desenhar livremente, a escrever diários e a cantar dentro e fora do chuveiro. 

O marido de uma amiga passou a pintar aquarelas, assim, do nada. Virou artista de pandemia. Encomendou tintas e pincéis pelos Correios, seguiu alguns tu- toriais de pintura na internet e se aventurou a descobrir novos ma- tizes, novas texturas e efeitos de sombra. Pintura não é a minha praia. Nem nada que envolva usar as mãos, digamos assim. Na última semana, no entanto, dei um salto quântico. 




 
Aceitei o desafio de uma amiga, que me convidou a participar de um curso de olho de Deus. O grupo aprenderia a tecer essa espécie de mandala de lã, herdada das tradições antigas. 

O resultado do trabalho é bem bonito. Para quem não vê dife- rença entre tricô e crochê, porém, a aventura seria equivalente a descer de bote nas Cataratas do Iguaçu ou a sobrevoar de helicóp- tero o Grand Canyon, nos Estados Unidos. E seria impossível pedir arrego, pois Deus estava de olho em mim. 

Fiz o sinal da cruz e me lancei no escuro. Escolhi três novelos de lã que me pareceram simpáticos. 

Com uma paciência de pedra, a professora mostrou como eu de- veria passar a linha pelos palitos, arrematando com um laço. “Vamos colocar nossa intenção no trabalho.” 

”Por isso daremos um laço, e não um nó em nossa jornada”, disse ela. O conceito era lindo, mas eu não conseguia fazer nem um, nem outro. Ela veio me socorrer. Explicou uma, duas, três vezes. 

Por fim, deixou a ajudante do meu lado, exclusivamente por minha conta. De repente, o pro- cesso fez sentido. Aleluia. 

Apressada, danei a passar vol- tas e voltas na linha, querendo acabar logo. Não é assim que funciona com os trabalhos manuais, nem com todos os outros. Virou um bololô. Precisei desmanchar e voltar ao ponto zero. Bem feito! 

Basta de se comparar às outras colegas, preocupar em fazer bonito ou acabar antes das outras (ou depois de todo mundo). Para quê? 

A vibe é outra. Descobri tardiamente que o trabalho manual é quase um mindfulness. É preciso ter atenção plena na atividade, ficar no presente, desligar-se dos outros e do celular. Dar pontos sem nó. Não saiu uma obra-prima, mas consegui terminar minha mandala de crochê. Estou olhando  agora para ela, dependurada na parede, nas cores branco, amarelo e laranja. Parece um milagre. O olho de Deus existe.




Saiba mais sobre xamanismo no canal
Chá Com Leveza (https://youtu.be/-Rr0i8i8_KM)

*Sandra Kiefer assina esta 
coluna quinzenalmente




audima