Na Era de Aquário, um dos maiores aprendizados deve ser esquecer tudo o que aprendemos. Nossos condicionamentos, limitações, crenças limitantes. Nossas máscaras.
Para ser realmente felizes, devemos voltar ao estado de criança, retomando o que gostávamos de fazer na infância: chupar jabuticaba, acordar assoviando ou rodopiar em torno do próprio corpo até ficarmos tontos. Quem falou que os adultos não podem mais comer a raspa do bolo?
Parece brincadeira, mas outro dia fui abordada na rua enquanto degustava um Tablito. O senhor desceu do carro e caminhou em direção a mim, enquanto a mulher dele ficou olhando do vidro da janela, espantada. Ele perguntou qual era mesmo o nome desse picolé, crocante por fora e com uma barra de chocolate por dentro.
Fiquei alegre em poder ajudá-lo a identificar o seu gatilho da infância. Todo ser humano deveria ter direito a uma pausa para o picolé. Somos crianças de Deus! Só precisamos recordar de nós mesmos. Juntar as peças do jogo da memória.
Para ajudar a lembrar de como éramos, observe um grupo de crianças na pracinha. Enquanto os adultos olham ao redor, buscando o primeiro banco na sombra para se sentar, os pequenos correm de um lado para o outro, sem motivo, só porque deu vontade. De repente, um deles cisma de se equilibrar nas bordas do canteiro, desafiando o colega.
Os adultos deveriam fazer o mesmo. Sabia que andar em linha, pé ante pé, é um dos exercícios mais indicados no Pilates, especialmente para idosos? Ajuda a ensinar o corpo a reencontrar o próprio equilíbrio, que vai mudando de eixo com o passar dos anos. Aliás, as academias para a terceira idade, que brotaram em cada canto da cidade, em boa parte subutilizadas, escondem na verdade uma matrix.
Na cabeça dos meus filhos, os aparelhos azuis e amarelos são armadilhas de um sistema ilusório. Os indutores de caminhada são, na realidade, simulacros de esquis, dos mais perigosos. Já o outro aparelho, que imita um cavalinho, é capaz de sair trotando praça afora, cantando o pocotó. Os equipamentos para exercitar os ombros são, na realidade, enormes volantes, quase um simulador de corrida.
Tudo é mais divertido quando visto sob a ótica infantil. Se a criança não tiver uma bola, OK. É só sair por aí chutando uma pedrinha. Se a comida custa a sair no restaurante, basta improvisar uma rodada de pedra, papel e tesoura. Já as folhas dos guardanapos são puro pretexto. Praticamente imploram para receber desenhos, jogos da velha ou forca.
Faça um experimento social. Peça para desligar o celular no almoço ou no jantar, que seja por 20 minutos. Desligue também o seu. Você poderá se surpreender. Com sorte, poderá se tornar cúmplice de um autêntico ataque de riso, sem nenhum motivo aparente. A criança olha torto para a outra, que acha aquilo engraçado e dispara a dar risada. A outra faz cara de séria e só piora a situação. Tenta não rir. Gargalhada geral.
Nada é mais gostoso do que rir da gente mesma, de nossa rigidez, dos compromissos inadiáveis, do glamour e das cobranças. Sejamos crianças!